Nos últimos dois meses, o continente americano se viu envolvido por um interessante debate sobre biocombustíveis, sendo que a mídia tem sido inundada por diferentes opiniões.
De um lado, os presidentes do Brasil e dos Estados Unidos tentam juntar esforços para incentivar a produção de biocombustíveis em larga escala no continente, defendendo a tese que esta é alternativa viável para a substituição de combustíveis fósseis e para minimizar problemas ambientais. Por outro lado, os presidentes de Cuba e Venezuela questionam o deslocamento de áreas de terra cultiváveis da produção de alimentos, o que poderia aumentar ainda mais os graves problemas sociais e de alimentação das populações da América Latina.
A pesar de não ser agrônomo, nos últimos anos tenho acompanhado esse caloroso debate que hoje chega à população nos inúmeros eventos que tenho participado sobre biocombustíveis. Após ter escutado inúmeros especialistas com opiniões diferentes, me parece claro que pouquíssimos países no mundo poderão produzir biocombustíveis com as tecnologias agrícolas atuais sem deslocar áreas usadas para a produção de alimentos.
Felizmente, também parece que o Brasil possui inúmeras opções viáveis, como, entre outras, usar áreas degradadas da floresta amazônica para produção de palmáceas ou, ainda, áreas de pastagens já degradadas e abandonadas pela pecuária, sem a necessidade de diminuir a produção de alimentos. No entanto, não está claro para mim se seremos capazes de abastecer o nosso mercado interno e ainda nos tornarmos um grande fornecedor mundial de biocombustíveis.
Na Tabela abaixo existe um quadro comparativo entre as produtividades, por hectare, de diversas fontes de óleos e gorduras tradicionais e também de algas. A partir desses dados percebe-se que as microalgas conseguem aumentar em mais de vinte vezes a produtividade de palmáceas como o dendê, tida por muitos especialistas como as únicas viáveis para programas de biodiesel em larga escala. Além da alta produtividade, esses organismos são mais eficientes na conversão de luz do que plantas terrestres, seu ciclo de vida é de alguns dias e ainda podem ter até 50 % do seu peso na forma de óleos.
Recentemente tive contato com empresários americanos que estão desenvolvendo bioreatores para crescimento de algas em larga escala, as quais são alimentadas com CO2 oriundo de empresas de petróleo. Assim, além de produzirem óleos com alta eficiência por hectare, ainda diminuir emissões de carbono e empresas poluidoras!
Assim, está ficando claro para mim que as algas são uma alternativa concreta de fonte de matéria-prima para a produção de biodiesel. Acredito que esta na hora de colocarmos essa alternativa na nossa pauta e iniciar a desenvolver tecnologia adaptada ao nosso país, sob o risco de haver no futuro próximo uma perda completa de competitividade do biodiesel produzido pelas culturas tradicionais.
Tabela: Comparação de algumas fontes de matéria-prima para a produção de biodiesel.
Fonte de biodiesel - Produtividade de óleo (L/ha) - Área necessária (Mha)a
Milho - 172 - 1.540
Soja - 446 - 594
Canola - 1.190 - 223
Coco - 2.689 - 99
Óleo de palma - 5.950 - 45
Microalgab - 136.900 - 2
Microalgac - 58.700 - 4,5
a Área suficiente para atender a 50% da demanda de combustível nos EUA;
bvariedades com 70% óleo (por peso) na biomassa;
cVariedades com 30% óleo (por peso) na biomassa. Fonte: Chisti, Y.; Biotechnology Advances 25 (2007) 294 – 306.
Por Paulo Suarez
sexta-feira, maio 16, 2008
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