quinta-feira, junho 26, 2008

Biocombustíveis trocam um problema por outro

Para especialista em energia, não faz sentido resolver o problema do petróleo, que é um recurso limitado, por terra, que é outro recurso limitado

Não basta substituir uma matriz por outra, mas diversificar. Não adianta resolver só do ponto de vista de oferta, trocando gasolina por álcool, mas também de distribuição, que é arcaica, e de demanda, que não pode continuar no nível atual. É o que defende o autor americano dos livros "The End Of Oil" ("O Fim do Petróleo") e "The End of Food" ("O Fim do Alimento").

Seu primeiro livro falava da crise energética. O atual fala da crise alimentar. Nos quatro anos que os separam, um assunto ficou intimamente ligado ao outro. A alta do petróleo ajudou a elevar os preços dos alimentos. Agora, Paul Roberts vê com preocupação o caso brasileiro, em que biocombustíveis como o álcool são tratados como a solução para o primeiro problema.

"Não me parece muito inteligente destinar cada vez mais terras para essa produção enquanto não sabemos com certeza qual será a demanda futura por alimentos", disse, em entrevista à Folha, por telefone, do Estado de Washington, onde mora com a mulher.

O jornalista investigativo de 54 anos defende uma mudança de hábitos dos consumidores.

"Não adianta falarmos que queremos que o governo, a ONU, seja quem for, resolva o problema, desde que nós possamos continuar tendo 2,5 carros, como é a média atual nos Estados Unidos."

"O Fim do Petróleo", título do seu primeiro livro, levará ao fim da alimentação, título do segundo?

Paul Roberts: A crise energética sublinhou o papel central que a energia tem na produção de alimentos. Nós deveríamos saber já há tempos que energia e alimentação são intimamente ligadas e a crise de uma levaria à outra. Isso porque nossa estrutura alimentar foi pensada para um mundo em que o barril do petróleo custa US$ 15 [na última semana, bateu os US$ 140, ante US$ 10 há uma década].

Pense bem, todo o sistema de fertilizantes baseados em petróleo, o sistema de distribuição baseado em caminhões e aviões, tudo depende pesadamente do combustível fóssil. A origem disso tudo é uma época em que a energia era tão barata que quase não era levada em conta na equação.

Só isso já seria o suficiente para fazer a ligação entre as duas crises. Mas há ainda o caso recente dos programas de biocombustíveis, um novo dado na equação alimento-energia. Eles colocam mais pressão no setor de alimentação, pois ambos são feitos de maneira semelhante. Ou seja, antes nós ligávamos a alimentação, que é o setor mais importante do mundo, a uma mercadoria, o petróleo, que estava destinada fatalmente a subir de preço, pelo fato de ser um recurso que acabará um dia.

Agora, estamos substituindo por outro, o biocombustível, que briga por espaço com a própria produção de alimentos.

Em sua opinião, não faz sentido?

Roberts: Do ponto de vista de segurança alimentar, não, nenhum. Você troca um sistema que se baseia numa fonte limitada, que é o petróleo, por outro, de outra fonte limitada, que é a terra arável. Uma hora os dois acabam. O biocombustível pelo menos torna o problema mais evidente, por ser visível.

Quando você vê uma plantação de cana, ela está lá, ocupando espaço. Você é obrigado a enfrentá-lo, a pensar a respeito. O petróleo vem do fundo da terra e do mar, oculto. Do ponto de vista do público parece que vem de fonte inesgotável. É óbvio que acabará, mas não é tão visível.

Qual a solução, então? Há uma "terceira via"?

Roberts: Há todo tipo de possibilidades tecnológicas sendo pesquisadas neste momento, algumas que eu e você não podemos nem imaginar. Dá para presumir que a inovação vai continuar, principalmente quanto mais os preços subirem, historicamente o melhor estímulo intelectual. Veremos energia nuclear mais segura e barata, algas oceânicas que criem biocombustível de maneira sustentável, estamos próximos de anúncios históricos.

Mas, se a atual crise nos ensina algo, é que não bastará substituir uma matriz por outra, e sim diversificar. Mais: não adianta resolver só do ponto de vista de oferta, trocando gasolina por álcool, por exemplo, mas também de demanda, que não pode continuar no nível atual.

A produção de biocombustíveis diante da crise alimentar domina as discussões. No Brasil, o governo defende que as terras destinadas ao álcool ocupam perto de 2% do total que pode ser utilizado para alimentos. Já o relator especial da ONU sobre o assunto pede moratória de etanol. Qual o seu lado?

Roberts: Quando se fala que a terra ocupada para o biocombustível é pequena, eu pergunto: não é terra que poderia estar produzindo alimento? Ou é onde o dinheiro está? Quero ser cuidadoso nesse debate, mas não me parece muito inteligente destinar cada vez mais terras para a produção de biocombustíveis enquanto você não sabe com certeza qual será a demanda futura por alimentos. As pessoas dizem: "Bem, nós sempre podemos mudar de volta a exploração da terra para a produção de alimentos". Sim, mas depois que você constrói usinas ao lado dessas terras, investe bilhões de dólares na infra-estrutura para escoamento da produção, é extremamente difícil mudar. Há a demanda criada, a pressão política...

É possível reprimir a demanda por combustíveis, seja da origem que forem, sem comprometer o desenvolvimento de países emergentes, por exemplo?

Roberts: Essa é a pergunta de US$ 40 trilhões [risos]. É difícil, no quadro atual de desenvolvimento econômico. Mas, do jeito que está, caminhamos para o desastre. Faça as contas: pegue a situação das fontes naturais vitais para o desenvolvimento econômico, como água, terra e energia; adicione a mudança climática e o aumento de população; leve em conta que essa população não só cresce como está mais rica e consumista, com apetite por mais recursos.

É a receita do desastre. Não adianta falarmos que queremos que o governo, a ONU, seja quem for, resolva o problema, desde que nós possamos continuar tendo 2,5 carros, como é a média nos EUA, e comprando TV de tela de plasma. Eis a verdadeira discussão. Pegue por exemplo a questão da carne. É uma das mercadorias que mais energia e recursos naturais consome para ser produzida e uma das que mais afeta o ambiente. Os EUA, a Europa e o Canadá consomem em média cem quilos de carne por habitante por ano. A média mundial é muito menor que essa. O resto do mundo não pode comer carne como essas três regiões, ou o mundo entraria em colapso total. Qual é a conclusão? Os EUA devem continuar comendo mais carne que o resto do mundo? O resto do mundo deve se contentar com menos? Ou nós deveríamos chegar a uma equação mais eqüânime no meio do caminho? Um futuro em que os norte-americanos comam menos carne e todo o sistema global de alimentação se adapte à nova realidade. O mesmo se aplica a todo o resto. Moradia, por exemplo. Nós precisamos de casas com três andares e dez cômodos, mesmo com a família média norte-americana diminuindo? Carros cada vez maiores? Se continuarmos a vender essa idéia, de que sem casas grandes e muitos carros você não é bem-sucedido, de novo, caminhamos para o colapso.

Pela primeira vez, há mais obesos do que famintos no mundo, segundo a ONU. Como chegamos a essa assimetria?

Roberts: É perverso, concordo. É a primeira vez na história que ser gordo não é privilégio da elite. Dito isso, o problema da comida não ser distribuída eficientemente acontece já há algum tempo. O Império Romano foi construído em grande parte para permitir o acesso de Roma ao trigo. E Roma garantiu esse acesso de maneira bem-sucedida, porque tinha poder para isso. Eles tomavam o trigo do Egito e deixavam o país com pouco. No século 13, o mesmo aconteceu na Polônia e no mar Báltico, que alimentavam a Europa Ocidental e passavam fome. As potências sempre consumiram mais alimento, à custa dos mais pobres.

Só que isso era menos problemático no século 20, pelo menos na segunda metade, porque vivíamos no mundo do excesso, das sobras. Naquele período, a população explodiu em grande parte por conta da nossa capacidade de processar alimentos industrialmente. Assim, esquecemos a realidade de um mundo com recursos limitados. E isso infelizmente está reaparecendo. Temos uma população enorme, recursos de menos, devemos nos reeducar à luz dessa realidade e nos descolarmos de uma economia alimentar que já tem milhares de anos de idade.

O sr. não é totalmente contra o uso de transgênicos?

Roberts: Não, não sou da tribo dos que rejeitam os transgênicos apenas porque são novos e, portanto, perigosos. Meu problema com essa indústria é que ela está voltada para a chamada agricultura dos ricos, para grãos que são sucessos de venda, mas não liga a mínima para as necessidades dos outros 75% da população, que precisa de grãos não tão mercadologicamente importantes. O milagre transgênico serve aos que não precisam do milagre em primeiro lugar. De novo é: onde está o dinheiro? Fazendeiros africanos não têm dinheiro para comprar sementes transgênicas, logo, por que a indústria se preocuparia com eles? Ela está preocupada com a soja, e o pequeno fazendeiro no Quênia não precisa de sementes de soja. Ou seja, a indústria precisa provar que está preocupada com a segurança alimentar.

Eles estão usando nossos preciosos dólares de pesquisa que poderiam estar sendo usados para melhorar a saúde e educar os fazendeiros mais pobres. Frases "Quando se fala que a terra ocupada para o biocombustível é pequena, eu pergunto: não é terra que poderia estar produzindo alimento? (...) Não me parece inteligente destinar cada vez mais terra ao biocombustível enquanto não se sabe qual será a demanda futura por alimentos" "Os EUA, a Europa e o Canadá consomem em média cem quilos de carne por habitante por ano. A média mundial é muito menor que essa. O resto do mundo não pode comer carne como essas três regiões, ou o mundo entraria em colapso total".

Raio-X:
Nome: Paul Roberts
Quem é: Especialista em energia, jornalista e escritor investigativo desde 1983; mora no Estado de Washington (EUA)
Livros: "The End of Food" ("O Fim do Alimento", recém-lançado) e "The End of Oil" ("O Fim do Petróleo", 2004)

Sites: the-end-of-oil.com/-wsn/page2.html e www.theendoffood.com/

Fonte:

Etanol Celulósico: a procura do Microbio salvador

Das centenas de bactérias identificadas, duas novas espécies já foram isoladas e caracterizadas.

A "redescoberta" do etanol e a procura de fontes de energia renovável a partir de plantas está a transformar por completo o cenário científico da indústria de combustíveis.

Por exemplo, o biólogo brasileiro Alexandre Rosado tem, nestes últimos tempos, vasculhado o intestino de peixes ede vacas à procura de micróbios capazes de digerir celulose e produzir os biocombustíveis do futuro.

O professor do Instituto de Microbiologia da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) e chefe do Laboratório de Ecologia Microbiana Molecular, explica: "os cientistas procuram enzimas com ação celulolítica - ou seja, capazes de quebrar as moléculas longas e duras de celulose em moléculas menores e mais digeríveis" (do ponto de vista de uma levedura), que possam ser aproveitadas nos processos clássicos de fermentação para produção de etanol".

Todavia, essas enzimas, chamadas celulases, são raras o que constitiu é um dos principais entraves à produção de etanol de celulose.

Os especialistas em produzir celulases na natureza são microrganismos. Assim, na UFRJ, os cientistas estudam o arsenal enzimático de micróbios que vivem no intestino de peixes cascudos da mata atlântica.

Destas centenas de bactérias identificadas, duas novas espécies já foram isoladas e caracterizadas.

Veja mais em:

Matérias sobre Etanol Celulósico

Le Monde diplomatique e os Biocombustíveis

A pretigiada revista Le Monde diplomatique trás alguns artigos tratando da possível revolução energética mundial de boa qualidade que achei importnate disponibilizar para os nosso leitores.

É um texto em quatro capítulos:
I: Seremos como rebanhos?

II: Um choque entres os dois modelos

III: Muito mais que novos combustíveis

IV: De que revolução se trata

Ver também:

O dossiê no Le Monde Diplomatique-Brasil:

Cita, ainda, outras fontes:

Greenpeace: Na página internacional do movimento,uma seção inteira está dedicada ao aquecimento global. O relatório [R]evolução Energética (em inglês, formato pdf, 96 páginas) pode ser baixado aqui, ou consultado, em capítulos, num site à parte. Também é possível acompanhar as ações em curso, contra a catástrofe climática.

Greenpeace Brasil: Um relatório especial e uma cartilha temática sobre os primeiros sinais de mudanças climáticas no país pode ser baixado aqui. No site, uma seção especial, intitulada "Mude o Clima", e toda em português, trás informações, análises, boletins e notícias de ações.

Painel Internacional sobre Mudança Climática (IPCC): Constituído pela Organização Meteorológica Mundial (WMO) e pelo Programa das Nações Unidas para o Meio-Ambiente (UNEP), o Painel é aberto a todos os países-membros da ONU. Sua responsabilidade é "produzir, em bases objetivas amplas, transparentes e abrangentes, informação relevante para compreender as bases científicas das mudanças climáticas induzidas pelo ser humano". A versão do site em castelhano é razoavelmente completa e legivel. Reúne os principais documentos técnicos, agenda de trabalho, informação sobre o funcionamento da instituição.

Agenda Sustentável 2020: A partir de uma iniciativa internacional do Fundo Mundial para a Vida Selvagem (WWF-Brasil), um grupo de especialistas da Unicamp produziu, em 2006, a Agenda Sustentável 2020. Ele propõe medidas concretas para melhorar a matriz energética brasileira, ampliando a geração eólica, solar e em pequenas hidrelétricas. Uma seção especial no site do WWF-Brasil reúne as principais informações da Agenda. Lá, é possível baixar o texto.


Fonte:

segunda-feira, junho 23, 2008

Produtores norte-americanos de etanol recusam rótulo de vilões

Os produtores americanos de etanol rejeitam as críticas que vêm sofrendo nos últimos meses, segundo as quais o etanol fabricado a partir de milho – como acontece nos EUA – seria o responsável pela inflação global no preço dos alimentos.

Para a Renewable Fuels Association (RFA), entidade que reúne produtores e distribuidores norte-americanos de etanol, o aumento no preço do barril de petróleo – que chegou ao recorde de US$ 138 no início de junho - é o verdadeiro vilão.

“Várias análises provam que o preço do barril de petróleo – e não o do milho ou a produção de etanol – tem o maior impacto nos alimentos, porque esse combustível é uma parte integral de virtualmente todas as fases da produção de alimentos, desde o processamento até a embalagem e o transporte”, disse a RFA por meio de sua porta-voz, Mary Giglio.

No último dia 3, na Conferência das Nações Unidas para a Agricultura e Alimentação (FAO), em Roma, o presidente Lula fez questão de diferenciar os efeitos do etanol feito a partir de cana-de-açúcar, como no caso brasileiro, daquele que usa o milho como matéria-prima.

Nas palavras do presidente, "há quem diga que o etanol é como o colesterol. Há o bom etanol e o mau etanol. O bom etanol ajuda a despoluir o planeta e é competitivo. O mau etanol depende das gorduras dos subsídios."

É a mesma postura adotada por Jean de Schutter, relator Organização das Nações Unidas (ONU) para o Direito à Alimentação, em declaração feita no mês passado. “Eu não penso que o impacto de se produzir etanol a partir da cana-de-açúcar no Brasil, o que tem sido feito há 30 anos, poderia ser colocado no mesmo plano que a transformação do milho em bioetanol nos Estados Unidos”.

Além do petróleo, os americanos apresentam outros argumentos para rebater essas críticas. Segundo a RFA, quebras de safras devido a fatores climáticos na Austrália e na China, aumento na demanda por alimentos nos países em desenvolvimento, especulação com as commodities nas bolsas de valores e a desvalorização do dólar também têm maior influência que o etanol de milho.

“Estimamos que, no total, o etanol de milho seja responsável por 2% ou 3% do aumento no preço dos alimentos, afirma Mary Giglio, da associação dos produtores norte-americanos de etanol. “Além disso, uma refinaria de etanol de tamanho médio gera por ano cerca de 1,6 mil empregos através da economia”, justifica.

Motivos

Especialistas brasileiros ouvidos pelo G1 discordam da avaliação norte-americana. Para Daniele Siqueira, consultora da Agência Rural, o petróleo tem influência nos preços.

No entanto, ela acredita que “o principal fator do aumento é o desvio de parte da safra de milho para a fabricação de etanol”.

Segundo ela, a quantidade de milho usado como matéria-prima do combustível nos EUA saltou de 53,8 milhões de toneladas na safra passada para 76,2 milhões na atual. É quase um quarto do total plantado nos EUA, de 332,1 milhões.

“O mais impressionante é a previsão desse desvio para a próxima safra, que está na casa de 101,6 milhões”, alerta.

A consultora explica que esse milho era usado tanto para exportações quanto para o mercado interno de rações e alimentação – e o Departamento de Agricultura americano já reduziu as previsões de ambos nos EUA.

“Com isso, o aumento se espalha para outros segmentos alimentares. Os produtores de carne, por exemplo, tem dificuldade de manter seus preços quando a ração está tão cara”, detalha.

Esse desvio das exportações já está sendo sentido nos mercados mundiais.

Segundo o estudo “The Rush To Ethanol”, do grupo Food & Water Watch, “países em desenvolvimento que importam milho americano, como Indonésia e Egito, podem experimentar instabilidade sócio-econômica como resultado de preços exorbitantes do produto”.

No México, isso já está ocorrendo, gerando protestos populares. A tortilha - símbolo da culinária mexicana, feita à base de milho - tem se tornado cada vez mais cara, agravando um quadro político e econômico já volátil.

No caso da cana-de-acúcar, os analistas apontam que ela não concorre diretamente com nenhum alimento, além do açúcar, que também é fabricado a partir do vegetal.

Hoje, pouco mais da produção de cana do Brasil é usada para etanol, e o restante vai para a produção de açúcar. Mesmo assim, espera-se que a próxima safra brasileira do produto seja recorde. E, ao contrário dos grãos, a demanda por açúcar no mercado mundial é apenas moderada no momento – e se espera que essa tendência seja mantida nos próximos anos.

Disputa por terras

Outro modo de influência do etanol de milho no preço dos alimentos é através da competição por terras com outras culturas alimentares. “Os EUA são uma país onde praticamente não há novas terras aráveis”, afirma Daniele.

“Essa escassez leva a uma disputa por terras entre as commodities com maior preço no mercado. Assim, o milho avança sobre a soja e o trigo”, diz. Com menor disponibilidade, esses dois produtos registrararam altas significativas nos últimos meses.

É a mesma análise de Paulo Molinari, analista da consultoria Safras.

“A limitação no tamanho dos campos gera um estrangulamento da oferta de alimentos em um momento de aumento da demanda. Estamos no fio da navalha:uma eventual quebra de safra agora poderia gerar um problema seriíssimo no mundo”, analisa.

Segundo analistas, essa situação é diferente no caso do etanol de cana. De acordo com Sérgio Torquato, pesquisador do Instituto de Economia Agrícola (IEA), um levantamento do instituto, concluído em março, mostrou que pelo menos no caso do estado de São Paulo não há substituição em grande escala de alimentos por cana.

“As novas plantações têm surgido basicamente em áreas que antes eram pastagens extensivas”, informa. Segundo ele, existe espaço no Brasil para o crescimento da cana. “A cana ocupa hoje cerca de 7 milhões de hectares (2,5% da área plantada do país). Há cerca de 20 milhões de hectares livres para a expansão da cultura”.

O fator ambiental

A influência ambiental também é apontada como outra diferença entre as duas matérias-primas do combustível. No caso americano, o uso de nitrogênio como fertilizante nas crescentes plantações de milho do Meio-Oeste faz com que todo ano cerca de 100 mil toneladas de nitratos sejam despejados no rio Mississippi, que deságua no Golfo do México.

A concentração do produto na região gera a proliferação descontrolada de algas e prejudica o desenvolvimento da vida marinha, o que levou ao surgimento de uma região conhecida como "zona morta".

No caso do Brasil, a preocupação referente à cana é que o aumento de seu plantio possa ser uma repetição do que aconteceu no caso do soja, onde a expansão das colheitas na direção norte gerou um aumento no desmatamento até criar o chamado Arco do Fogo. Trata-se de uma região que envolve a floresta amazônica conhecida pelo grande número de queimadas.

“O medo de a cana pressionar na direção da Amazônia sempre existe, mas é possível evitar isso através de diversas medidas, como o zoneamento agrário (indicação de áreas adequadas para plantação), diz Torquato, do IEA. “O caso dos EUA e do Brasil é completamente diferente. A cana-de-açúcar tem espaço para crescer sem devastar a Amazônia”, concorda Daniele, da Agência Rural.

Expansão

Os EUA passam por uma forte expansão em sua produção de etanol desde 2005, quando uma lei chamada Energy Policy Act determinou cotas mínimas de uso do combustível para os próximos anos. Os números mostram que a participação do etanol no consumo energético americano foi de 3,5% dos suprimentos de combustível em 2006. Espera-se que até 2017 esse valor chegue a 7,5%.

Nos EUA, a produção de etanol é feita a partir de milho porque, devido a fatores climáticos, os fazendeiros só conseguem plantar cana nos estados da Flórida e do Havaí.

Como resultado da demanda por etanol, a extensão desse plantio vem crescendo. A área plantada com milho em 2007 será a maior desde 1944 nos EUA. Na próxima safra, a quantidade plantada com milho deve subir em 15%, superando os 90 milhões de hectares.

Mesmo com a maior produção, no entanto, o preço do milho no mercado mundial está disparando: no período de dois anos, o valor do bushel (unidade de medida equivalente a 25,4 quilos) triplicou, saltando de US$ 2 para US$ 6.

Marcelo Cabral
Fonte: Portal G1

Da Agência

Maior companhia aérea japonesa prepara vôo com biocombustíveis

A Japan Airlines (JAL), maior companhia aérea do Japão, anunciou nesta segunda-feira que antes de março de 2009 fará um vôo de teste com um Boeing 747 equipado com reatores da americana Pratt & Whitney, um deles alimentado com uma mescla de biocombustíveis de vegetais não comestíveis.

"Queremos contribuir no avanço da pesquisa sobre o uso de combustíveis alternativos", afirmou o presidente da JAL, Haruka Nishimatsu.

A JAL, a construtora americana Boeing e a Pratt & Whitney, que trabalham juntas no teste, utilizarão um biocombustível de "segunda geração", com plantas que não são usadas na alimentação humana.

"Muitos vegetais estão sendo estudados e ainda não escolhemos", destacou a JAL.

"Em laboratório temos um biocombustível que cumpre todas as especificidades requeridas por nossos aviões", garantiu o engenheiro da Boeing Tim Rahmes.

A Boeing espera que seus aviões comerciais voem com biocombustíveis dentro de cinco a 10 anos.

Fonte:

Da Agência

Biocombustíveis de 2ª geração: O Brasil corre o risco de ficar para trás

A empresa americana Verenium inaugurou há três semanas a primeira usina do país para produção de etanol de celulose em escala pré-industrial. A fábrica, prevista para entrar em operação no mês que vem, vai produzir 14.500 litros de álcool por dia a partir da fermentação do bagaço de cana-de-açúcar. O etanol de celulose é visto como o grande salto tecnológico dos biocombustíveis para o futuro, e o bagaço de cana é a matéria-prima na qual o Brasil aposta para entrar nesse mercado. Só tem um detalhe: a empresa não é brasileira, é americana, e a usina não fica no Brasil, mas nos Estados Unidos.

O projeto é mais um sinal de que o Brasil, líder no etanol “clássico”, feito a partir do caldo de cana, corre o risco de ficar para trás na corrida pelo etanol de “segunda geração”, produzido a partir da celulose. A Verenium é uma de várias empresas americanas fazendo pesquisa nessa área, apoiadas por investimentos milionários do Departamento de Energia dos EUA. Visando a reduzir sua dependência no petróleo, os Estados Unidos têm como meta produzir 79,5 bilhões de litros de biocombustíveis até 2022, dos quais 60,5 bilhões deverão ser etanol de celulose.

O Brasil, por sua vez, tem pouco a mostrar fora dos laboratórios. A indústria Dedini trabalha desde 2002 com uma planta piloto na Usina São Luiz, em Pirassununga, no interior paulista. A planta tem capacidade para produzir 5 mil litros de etanol de celulose por dia, mas funciona apenas ocasionalmente, em caráter experimental, e deverá ser desativada em breve. A empresa tem um projeto com a Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (Fapesp) para construir uma nova unidade experimental, talvez em Piracicaba.

Outra planta piloto fica no câmpus do Centro de Pesquisas de Petrobrás (Cenpes), no Rio. A unidade foi inaugurada pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva em outubro, mas, segundo fontes de fora da empresa, nunca funcionou plenamente. A pesquisadora Lídia Santa Ana, responsável pelo projeto, nega. “Estamos trabalhando muito”, diz.

Segundo a Petrobrás, a planta tem capacidade para produzir 220 litros de etanol por tonelada de bagaço. A meta é chegar a 280 litros. “Estamos realizando vários testes para tirar parâmetros de escalonamento e otimizar o processo”, afirma Lídia. A Petrobrás não permitiu que o Estado visitasse a planta.

DEMONSTRAÇÃO

A usina da Verenium vai trabalhar em uma escala acima da planta piloto, chamada “demonstrativa”. Ela está instalada em Jennings, na Louisiana, um dos poucos Estados americanos que plantam cana-de-açúcar. Apesar da produção de etanol americana ser toda feita a partir do milho, a empresa optou pelo bagaço de cana por ser uma fonte de biomassa farta e de fácil manuseio - justamente as características que poderiam garantir ao Brasil uma vantagem no setor.

“O material já chega moído, pronto para ser processado” - o que significa ser destroçado por enzimas e dado de comer a micróbios fermentadores, que transformam o açúcar da celulose em álcool (ilustração), explica o bioquímico Kevin Gray, chefe de pesquisa da empresa.

As primeiras cargas de bagaço foram entregues no início do mês e a previsão é que o etanol comece a fluir em julho ou agosto. A produtividade inicial, segundo Gray, será de 300 litros de álcool por tonelada de biomassa. Mas a cana-de-açucar é apenas o “rato de laboratório” da empresa. Gray espera que o primeiro insumo usado em escala comercial será uma outra variedade de cana, chamada “energética”, que é pobre em açúcar, mas rica em celulose e com mais biomassa por hectare. “Já estamos fechando contratos com produtores para garantir a oferta.”

A expectativa é que as enzimas que funcionarem com a cana também servirão para outros tipos de gramíneas, como sorgo, palha de trigo, colmo de milho ou switchgrass (uma grama de pradarias muito comum nos EUA). A empresa planeja abrir uma usina comercial em 2010, com capacidade para produzir 310 mil litros de etanol/dia.

CENTRO NACIONAL

Lideranças científicas alertam para o risco de o Brasil “perder o bonde” do etanol de celulose. “Certamente os Estados Unidos estão muito mais avançados nessa área do que nós”, diz o físico Rogério Cerqueira Leite, da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp), que recentemente coordenou uma avaliação das pesquisas com etanol no País, encomendada pelo Ministério da Ciência e Tecnologia (MCT). “Não temos quase nada além de experiências de bancada.”

Cerqueira Leite é um dos autores da proposta de criação do Centro de Ciência e Tecnologia do Bioetanol (CTBE), que começa a ser construído este ano em Campinas. “Já temos recursos liberados e a idéia é deslanchar nos próximos meses”, disse. O projeto, financiado pelo MCT, inclui a construção de uma planta piloto de etanol de celulose.

“As vantagens do Brasil são muitas, mas se não aumentarmos nosso esforço de pesquisa vamos ser ultrapassados”, diz Cerqueira Leite. “É a única maneira de nos mantermos competitivos.” Ele acusa a Petrobrás de fazer lobby no governo federal contra a criação do CTBE. “A influência da Petrobrás tem sido muito pouco positiva”, diz.

O diretor científico da Fapesp, Carlos Henrique de Brito Cruz, concorda que o Brasil está atrasado nas pesquisas. “A vantagem que temos no etanol clássico vai demorar para ser superada - se é que um dia chegará a isso -, mas precisamos intensificar as pesquisas com outras técnicas. Temos de nos cuidar nas duas pontas.”

PRODUTIVIDADE

Mesmo que a celulose não chegue a competir com o caldo, diz Brito Cruz, o uso do bagaço seria uma forma de aumentar a produção de álcool sem aumentar a área plantada de cana.

Toda a indústria brasileira de etanol hoje é baseada no caldo de cana, que contém só um terço da energia da planta. Os outros dois terços estão no bagaço (metade do qual é queimado para produzir energia) e na palha da cana (geralmente queimada ou deixada no campo), que poderiam servir como fonte de celulose.

Fonte:

Da Agência

domingo, junho 22, 2008

Alimentos x biocombustíveis: crise inexistente

Em 2007, 6% do volume de oleaginosas produzidas no Brasil tiveram como destino a produção de biocombustíveis

A chamada crise dos alimentos que está preocupando governos e instituições em todo o mundo não é uma situação nova que surgiu da noite para o dia, mas sim um problema de falta de renda e não de oferta. E crise não há. Há a polêmica em torno da concorrência dos alimentos e biocombustíveis como se a produção de oleaginosas ou cana-de-açúcar para a produção de combustíveis alternativos tivesse avançado sobre a área de produção de alimentos.

O que não se sabe ainda é que atualmente o volume de grãos e oleaginosas destinados à produção de biocombustíveis é baixo e não justificaria a atual elevação de preços dos alimentos. Estima-se que em 2007, 6% do volume de oleginosas produzidas no Brasil tiveram como destino a produção de biocombustíveis. E apenas 4,5% da produção mundial de grãos foram transformados em etanol.

O que se fala como crise mundial de alimentos é resultado de muitos fatores. O primeiro deles é a abertura indiscriminada da economia dos países em desenvolvimento com a justificativa de que o ''Deus Mercado'' resolveria tudo. No Brasil, no início dos anos 90, as tarifas alfandegárias dos produtos agropecuários foram reduzidas ao mínimo, buscando uma equalização com os preços internacionais em níveis muito baixos, em função de políticas de subsídios dos países desenvolvidos.

O segundo problema são os baixos estoques mundiais de alimentos. No Brasil, por conta de posições liberais no passado houve um desmonte dos aparelhos públicos de regulação de preços e da implementação de políticas agrícolas de pesquisa e assistência técnica. Outro agravante foi a Lei Agrícola de 1991 que ampliou o papel do setor privado na comercialização da produção. Faltou a preocupação que soberania alimentar requer estoques firmes o tempo todo.

O terceiro são os resultados do programa da FAO que tem como meta acabar com a fome no mundo de mais de 800 milhões de pessoas. No Brasil, políticas de valorização do salário mínimo, o programa Fome Zero e o Bolsa-Família atendem mais de 11 milhões de famílias melhorando o nível alimentar destas populações. O quarto fator que afeta todos os países é a constante oligopolização das indústrias de insumos em toda a cadeia alimentar. Atualmente quatro grandes empresas controlam o setor de fertilizantes e só este ano aumentaram os preços de seus produtos entre 50% a 70%. Os aumentos sucessivos do petróleo também elevam os custos de produção da agricultura.

Há ainda um quinto fator que é a enorme concentração do varejo em nosso país, deixando fatia expressiva do consumo de gêneros de primeira necessidade na mão de grupos multinacionais, que verdadeiramente deprimem preços para quem produz e onera os consumidores. Já se sabia que a onda concentradora no setor supermercadista não ia dar em boa coisa.

A grande realidade é que o mundo todo percebe e reconhece os movimentos feitos pelo Brasil nos últimos anos constituindo importantes políticas públicas para a agricultura - em especial aos agricultores familiares e aos consumidores de baixa renda antes excluídos do mercado de consumo. Ao priorizar a agricultura familiar com políticas como o Programa Nacional de Fortalecimento da Agricultura Familiar (Pronaf), hoje com milhões de beneficiários acessando crédito, o Brasil se consolida cada vez mais como um grande e importante produtor de alimentos.

Com a política do biodiesel, que se soma a já competitiva política de etanol, o Brasil mostra ao mundo o caminho possível das energias renováveis, e, com desenvolvimento econômico e seus reflexos na empregabilidade, está se criando um imenso mercado interno, sólido e sustentável. Isto é, aquilo que se queria e se sonhava está se mostrando factível. E, em contraponto, não é o que se vê nos principais países do mundo. Eles nos vêem na perspectiva de futuro como um país com alimentos abundantes, de baixo custo, e com muita energia renovável.


Valter Bianchini é secretário da Agricultura e do Abastecimento do Paraná

Fonte: Folha de Londrina

Bioenergia faz aumentar procura por terras e usinas

Grandes propriedades e usinas são negociadas no País a partir de escritório em Maringá; áreas prontas chegam a custar R$ 40 mil o alqueire

A procura por bioenergia e alimentos no mundo trouxe megainvestidores que não fazem a menor cerimônia para desenbolsar centenas de milhões de dólares na compra de terras e usinas para procesamento de biodiesel, álcool e etanol no Brasil. O negócio bilionário vem atraindo figuras emblemáticas do mundo dos busines mundial, nada menos do que Bill Gattes, Larry Page e Sergey Brin (donos do Google), Clinton, George Soros, o indiano Ratan Tata, europeus e até los hermanos, os argentinos.

Terras prontas, com calcário e adubadas, chegam a custar neste mercado de bioenergia R$ 40 mil o alqueire, dada a especulação e a grande procura no Brasil. Usinas não ficam atrás, por exemplo, moendo 5 milhões de toneladas/ano, megainvestidores chegam a desenbolsar cerca de 1 bilhão de dólares no negócio. Um total de até US$ 30 bilhões de dólares aportaram nos últimos meses em terras brasileiras, com o objetivo de abocanhar o mercado de bioenergia.

O pesquisador da Embrapa, João Flavio Veloso Silva, coordenador nacional de bioenergia, que coordena 47 instituições de pesquisa e 138 pesquisadores do país todo diz que a compra de terras e usinas é "uma coisa que vai acontecer com uma frequência maior daqui por diante". O trabalho da Embrapa não tem nada haver com este tipo de negócio. Veloso é responsável direto pelo Plano Aceleração de Crescimento (PAC) na área de bioenergia, desencadeado pelo governo federal este ano. "A agroenergia está se tornando uma possibilidade real, e aí vários grupos internacionais estão buscando investir", destaca.

"Nós podemos ter uma internacionalização grande em algumas áreas estratégicas", alerta Veloso. Segundo ele, a "soberania" do país pode estar ameaçada nesta área e carece de legislação moderna, no sentido de proteger interesses nacionais. "A questão é que o Brasil precisa modernizar a legislação para este fim. Porque isso daí vai ser uma realidade. É necessário ter legislações que não causem problemas no futuro e também não restrinjam aporte de capitais externos", pondera.

"Seria importante que o Brasil começasse a pensar sobre uma legislação específica para compra de terras e usinas por parte de estrangeiros", declara Klauss Kuhnein, advogado da Federação da Agricultura do Estado do Paraná (Faep). Ele assinala que não há, na Constituição promulgada em 1.988, uma cláusula pétrea - lei que não pode ser alterada - dizendo que a terra pertence à União. As cláusulas pétreas existentes na Constituição tratam sobre a forma federativa de organização do estado brasileiro, voto direto, separação dos poderes e direitos e garantias individuais.

Entretanto, Kuhnein assevera que, de maneira indireta, o estado brasileiro pode reaver essas terras em caso de "perigo iminente" (Artigo 5º,Inciso 25), situação de guerra ou que envolva a soberania nacional. Nesta situação, o estado toma as terras, sem um processo de desapropriação a priori, para só depois, ressarcir o proprietário da terra.

No inciso 23 do artigo 5º também, está previsto que a terra poderá ser desapropriada pelo governo brasileiro, toda vez que ela deixar de exercer sua função social. Colocar a soberania em xeque, pode ser interpretado pelos legisladores como perda da função social da terra.


Edson Pereira Filho
Reportagem Local

Fonte: Folha de Londrina

Mecanismo do Desenvolvimento Limpo

Um dos sistemas criados pelo Protocolo chama-se MDL - Mecanismo do Desenvolvimento Limpo. Por esse mecanismo, os países industrializados (ou Anexo I) que não cumprirem suas metas de redução de elementos poluentes compram o direito de poluir, financiando projetos de redução da poluição em países em desenvolvimento (Não Anexo I), que poluem bem menos. Segundo Laila Menechino, que é especializada em Direito Ambiental, para evitar abusos nesse sentido, o Protocolo estabeleceu que apenas 1% da meta prevista para cada país pode ser compensada em outros territórios.

Existem várias empresas em todo o mundo autorizadas pela ONU a desenvolverem projetos para redução de emissões de gases. São as agências reguladoras de proteção ambiental, que emitem certificados autorizando emissões de toneladas de dióxido de enxofre, monóxido de carbono e outros gases poluentes.

Entre as atividades mais indicadas para gerar os certificados estão a substituição de óleo diesel ou carvão mineral em caldeiras por biodiesel, reflorestamento, captação do gás metano de aterros sanitários ou fazendas de suínos (produção de biogás) e a substituição total ou parcial do óleo diesel pelo biodiesel em caminhões, ônibus, tratores, locomotivas, barcos e outras atividades previstas no MDL.

Um projeto que resultar em diminuição do impacto ambiental e for aprovado pela sede do MDL, em Bonn (Alemanha), pode lançar os Certificados de Redução de Emissões – papéis negociados no mercado financeiro.

Cotações

Seguindo os aumentos recordes no preço do petróleo e gás natural, o mercado de créditos de carbono manteve a tendência de alta das últimas semanas de maio. Entre os países da Europa, a tonelada evitada de CO2 ou seu equivalente em outros gases quebrou a barreira dos 26,00 euros para entrega em dezembro.

Os créditos negociados entre os países do Anexo I e os países emergentes, caso do Brasil, seguiram a tendência e fecharam a última semana do mês cotados em 17,68 euros também para entrega em dezembro de 2008.

O Brasil acumula 280 projetos de MDL já aprovados pela Organização das Nações Unidas ou em algum de estágio de tramitação. Juntos, esses projetos equivalem a 281,22 milhões de toneladas não-emitidas de CO2.

O País se mantém em terceiro lugar em tonelagem, com 6% do total mundial, atrás da China (49%) e da Índia (23%) e em número de projetos, com 9%, novamente atrás de China (34%) e Índia (28%). Outros países de destaque são México, Malásia e Coréia do Sul.

Fonte: folha de Londrina

Biomassa para biocombustível

A descoberta de enzimas que permitam a produção em escala e o desenvolvimento de tecnologias de conversão de biomassa em etanol a partir das florestas plantadas brasileiras são os principais objetivos do programa Florestas Energéticas na Matriz de Agroenergia Brasileira. O programa está sendo realizado pela Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa), sob a liderança da unidade Embrapa Florestas, localizada no Paraná.

Cerca de 70 instituições públicas e privadas e mais de 100 pesquisadores participam do programa em todo o país. Um dos projetos inseridos no programa é coordenado pela pesquisadora Sônia Couri, da Embrapa Agroindústria de Alimentos, do Rio de Janeiro. Ele visa à obtenção de derivados energéticos de alto valor agregado a partir de biomassa florestal. Ou seja, é o processamento da madeira para produção de energia, utilizando diferentes processos.

Segundo a pesquisadora, existem muitos complicadores que oneram a produção de energia a partir de biomassa. Um deles é o custo internacional das enzimas - ou catalizadores biológicos - usadas na produção de energia, que oscila hoje entre US$ 0,30 a US$ 0,50 por galão de etanol. Mas, para ser lucrativo para o setor produtivo, esse valor teria que ser reduzido para cerca de US$ 0,05 o barril, informou Sonia Couri. Essas enzimas, atualmente, são importadas pelo Brasil.

"O mundo todo está procurando produzir uma enzima que torne esse processo economicamente viável. Porque a enzima é muito cara ainda", explicou. Ela alertou também que ainda não está otimizado o pré-tratamento da biomassa. Daí o interesse dos pesquisadores em conseguir recursos que permitam agilizar os trabalhos.

Sônia Couri explicou que, antes de iniciar o processo de fabricação de energia a partir da biomassa, é preciso efetuar o pré-tratamento da estrutura rígida dos troncos para expor a fibra de celulose à ação das enzimas. "Você tem que tirar a celulose que está mais escondida para que a enzima possa agir".

A pesquisadora destacou que é preciso que haja condições diferenciadas de pré-tratamento para cada tipo de matéria-prima usada, como resíduos de agroindústria, toras de árvore ou bagaço de cana. A celulose é um polímero de glicose, ou seja, uma molécula maior e mais complexa. "Então, a enzima age na molécula de celulose e transforma aquilo em um xarope de glicose. A enzima faz com que a ligação entre uma glicose e outra seja rompida, e aí você tem então a glicose livre para ser fermentada e fazer o etanol", ensinou.

Trabalhar com baixas temperaturas e em condições brandas é uma das vantagens do uso dessas enzimas. Elas substituem o tratamento com ácidos, que é muito drástico e resulta em um resíduo difícil de tratar depois, segundo a pesquisadora.

A Embrapa Agroindústria de Alimentos procura isolar fungos que sejam excelentes produtores dessas enzimas para depois utilizar na biomassa. Até o momento, a unidade de pesquisas já testou cerca de 500 fungos. Dois deles foram selecionados nos laboratórios do Centro de Tecnologia de Alimentos (CTA), situado no estado do Rio, e da Embrapa Agroindústria Tropical, que fica no Ceará.

Outros grupos de pesquisadores da Embrapa e de entidades de pesquisa parceiras efetuam a triagem para seleção de bactérias, cuidam da caracterização do DNA desses fungos e bactérias selecionados, e buscam ainda, a partir da biomassa, produzir um bio-óleo, que também é um derivado energético.

Na última semana, a equipe envolvida na obtenção de derivados energéticos, no caso o etanol, esteve reunida nesta capital. O conjunto de pesquisas incluídas no programa Florestas Energéticas quer o aproveitamento das florestas e dos resíduos agroindustriais como uma opção para a matriz energética brasileira.

"Se você considerar que o Brasil tem poucas áreas plantadas, existe um potencial muito grande para explorar essa área plantada. Você pode usar tanto a madeira de floresta plantada – não é a madeira de floresta nativa, de jeito nenhum – ou mesmo resíduos dessa floresta", disse Sonia Coura.

A pesquisadora avaliou que, em termos energéticos, é muito mais vantajoso usar parte dessas florestas plantadas para geração de energia. Ela argumentou que se o Brasil tivesse atualmente mais áreas com florestas plantadas, não haveria tanta invasão de florestas nativas.

O projeto foi iniciado em setembro de 2007 e tem prazo de conclusão previsto para dentro de quatro anos. A pesquisadora defendeu, entretanto, que ele deverá ter continuidade. Dos recursos previstos inicialmente, em torno de R$ 5 milhões pela Embrapa, só foram liberados até agora cerca de R$ 2,5 milhões.

Sônia afirmou que os pesquisadores pretendem buscar recursos em outras fontes à medida em que os estudos forem se desenvolvendo. "Porque ainda não é suficiente para tocar (o projeto) como deveria ser. Quanto mais recursos você consegue, mais rapidamente você pode ter alunos, pagar bolsas. Quer dizer, ter mais gente na equipe e produzir muito mais. Porque é isso que está acontecendo nos demais países", explicou.

A coordenadora do projeto na Embrapa Agroindústria de Alimentos observou que é preciso viabilizar as pesquisas economicamente, de modo a baratear o custo das enzimas. Uma das empresas interessadas em validar essa tecnologia em uma escala maior, anterior à etapa de industrialização, é a Global Ciência e Tecnologia, do setor de inovação.

A companhia está entrando com o projeto na Financiadora de Estudos e Projetos (Finep), do Ministério da Ciência e Tecnologia, em busca de financiamento. "Se a gente conseguir produzir aqui no Brasil, economiza uma série de etapas e pode ser viável economicamente", concluiu.

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sábado, junho 21, 2008

Aviões estarão usando Biocombustíveis em até 5 anos

Apenas daqui a quatro ou cinco anos o setor de aviação poderá ter uma alternativa renovável e possivelmente mais barata ao querosene, apesar das fabricantes de aeronaves estarem acelerando pesquisas neste sentido, afirmou nesta quinta-feira o vice-presidente executivo de Planejamento Estratégico e Desenvolvimento Tecnológico da Embraer, Satoshi Yokota.

Na avaliação de Yokota, no ano que vem já será possível fazer vôos experimentais com biocombustíveis em aviões da empresa, mas a utilização comercial ainda levará tempo, apesar dos esforços.

"Só se torna viável (biocombustível) se for uma solução universal, por isso existem acordos para acelerar as pesquisas, nos Estados Unidos e Europa, e no Brasil estamos fazendo trabalho com um consórcio mais restrito", disse o executivo.

Ele informou que, no Brasil, trabalha com a Petrobras e a TechBio, de Fortaleza, enquanto em outras partes do mundo mais empresas estariam envolvidas. "Mas temos acordo de confidencialidade", acrescentou.

Ele lembrou que um possível novo combustível tem que ser usado em todos os aviões, para garantir a concorrência, e que enquanto não se encontra um substituto que dê o mesmo rendimento que o querosene a tendência é fazer uma mistura com derivados de óleos vegetais, como ocorre com o diesel no Brasil, cuja mistura é de 3% de biodiesel atualmente.

"Os derivados de óleo ainda não nos levam a um substituto do querosene ainda. Estamos vendo uma mistura de 5 a 10% (de biocombusíveis ao querosene), o que seria adequado, porque não dá para pensar em pegar os 50 mil aviões que estão ai voando e mudar", disse o executivo.

Segundo Yokota, os técnicos químicos envolvidos nas pesquisas afirmam que mesmo que o petróleo caia do patamar atual, acima dos US$ 130 (checar) o barril, a busca por um combustível alternativo valeria a pena até com o preço do petróleo em torno dos US$ 80, US$ 70. "É tanto pela questão do preço como da emissão de carbono", observou.

Apesar dos custos em alta o executivo se disse otimista com o desempenho das vendas da empresa, principalmente na área de jatos executivos, que deve dobrar de tamanho em quatro anos. "Hoje corresponde a 15% da nossa receita e vai pular para 30% em 2012", afirmou.

Ele se disse preocupado no entanto com as novas fabricantes que estão despontando no mercado, como Rússia, China e Japão, ressaltando que não tem dúvidas de que, a exemplo do que já ocorreu com a Bombardier, a Embraer venha a ter problemas com dumping deste países.

"Eles vão subsidiar, vão fazer dumping, estão gastando milhões de dólares mais um pouco para financiamento. Não vai ser num prazo curtíssimo, mas em 10, 15 anos vão ser competidores fortes", previu.

19/06
Fonte: Reuters

Rio Grande do Sul terá primeira fábrica de plástico verde do Brasil

Uma solução ecológica que não interfere no dia-a-dia está no Rio Grande do Sul, onde será construída a primeira fábrica de plástico verde do Brasil. A iniciativa, que não depende do petróleo, já começa apresentar os primeiros resultados.

A matéria-prima utilizada pela nova indústria para produzir uma embalagem, por exemplo, não é o petróleo. Neste caso, a cana-de-açúcar como fonte renovável escreve novas páginas para o desenvolvimento sustentável. Trata-se de uma tecnologia 100% nacional e que não exige adaptação de máquinas para quem opta pela alternativa.

– Hoje, se ele quiser operar com outro biopolímero, ele tem que praticamente trocar de máquinas ou fazer grande modificações, sendo penalizado na produtividade. O uso do nosso produto vai permitir às atuais empresas que precisam de polietileno continuarem com os mesmos equipamentos – afirma o engenheiro químico Antônio Morschbacker.

No Pólo Petroquímico de Triunfo, no Rio Grande do Sul, uma planta-piloto produz os primeiros materiais derivados do álcool da cana-de-açúcar. O etanol passa por cilindros e, através de sistemas de pressão e calor, associado a um catalisador, resulta em grãos de polietileno.

O material trabalhado pode depois virar diversos produtos, usados no dia-a-dia. A consciência ecológica faz com que as empresas gastem até 30% a mais do que se optasse pelo derivado do petróleo.

– Indústrias de grande porte querem ter cada vez mais uma linha de produção sustentável para os seus produtos. Isso envolve, principalmente, embalagem. Embalagens de alimentos, cosméticos e envolve alguns setores da inústria automotiva que querem fazer parte dos seus veículos com polímero verde e indústria de brinquedos – completa Morschbacker.

Por enquanto, a planta-piloto tem capacidade de produção de 12 toneladas de polietileno por ano. Mas, a partir do funcionamento da fábrica em 2010, esse número sobe para 200 mil toneladas. O início das obras está previsto este segundo semestre.

A qualidade e característica do plástico verde são semelhantes ao plástico tradicional e também pode ser reciclado. Entre os benefícios da cana-de-açúcar estão a absorção de gás carbônico pelas plantações e a utilização por completo de toda a cana no processo.

Para a professora universitária e engenheira química Adriene Maria Sampaio Pereira, a pesquisa para alternativas à utilização do petróleo são importantes. Mesmo assim, ela faz uma ressalva.

– Sempre procurar outras coisas faz parte da evolução do homem. [Mas] a gente não pode ficar plantando uma coisa e tirar o lugar de alimentos que seriam produzidos. É como se diz ´vamos para a luz no fim do túnel´. Talvez não seja o fim do túnel, mas o começo de uma nova era – afirma.

Leandro Olegário
Fonte: Canal Rural

terça-feira, junho 17, 2008

Honda inicia produção de carro movido a hidrogênio

Tentando reforçar sua imagem "verde" a montadora japonesa Honda Motor iniciou a produção do modelo FCX Clarity, primeiro carro movido a hidrogênio. O presidente da empresa, Takeo Fukui, apresentou o veículo nesta segunda-feira (16), no Japão. O modelo será comercializado nos Estados Unidos a partir de julho — somente em setembro estará disponível ao mercado japonês. O FCX Clarity tem espaço para quatro pessoas e, por ser movido a hidrogênio e eletricidade, emite apenas vapor d'água. A montadora Japonesa também produziu um esportivo híbrido o CR-Z hybrid sports compact.

Takeo Fukui, Presidente da Honda, afirmou ainda que a idéia é vender 250 mil híbridos até 2009 e melhorar um pouco sua imagem "verde" que perto da Toyota, sua concorrente Japonesa é bem fraca.


Matérias Relacionadas:

Fonte: Associação Portuguesa do Veículo Eléctrico (APVE)

quarta-feira, junho 11, 2008

EUA aposta no Etanol de 2ª geração

Os Estados Unidos estão decididos: querem produzir etanol de segunda geração a partir dos resíduos de madeira e de uma variedade de capim em abundância naquele país, conhecida como "switch-grass". As informações estão no jornal O Valor desta terça-feira (10/06).

Mas segundo Helena Schum, responsável pela área de biocombustíveis do Laboratório Nacional de Energia Renovável, instalado no Colorado, vinculada ao Departamento de Energia dos EUA - e que esteve em recente visita ao Brasil -, o governo americano pretende formalizar a já anunciada parceria com os brasileiros para produzir etanol. Mas será etanol celulósico.

Entre os brasileiros, essa tecnologia caminha a passos largos no Centro de Tecnologia Canavieira (CTC) - que tem convênio com a Novozynes, especializada em enzimas - e na Canavialis, do Grupo Votorantim Novos Negócios. Naturalmente, para evitar especulações, essas empresas tratam do assunto a sete-chaves.

Pelo que se apurou até o momento, no entanto, o foco é tratar o etanol de segunda geração no Brasil sem abandonar a cana-de-açúcar. Ninguém fala em capim ou em restos de madeira.


10/06
Fonte:

sexta-feira, junho 06, 2008

Biocombustíveis são a melhor opção diante do alto preço do petróleo

A diretora do WFP (Programa Mundial de Alimentação da ONU, na sigla em inglês), Josette Sheeran, afirmou nesta quinta-feira que a produção de biocombustíveis é uma boa opção quando o petróleo supera os US$ 80 (o barril da commodity está no patamar de US$ 123 e, no último dia 22 bateu o recorde de US$ 135,09).

Ela, no entanto, disse que é preciso analisar com atenção seu impacto sobre os cultivos e que respeitem o ambiente, "para evitar efeitos devastadores".

Sheeran fez uma chamada para que aumente a produção de alimentos e entre em breve na cadeia de distribuição, já que "o um bilhão de pessoas que no mundo que têm fome passarão a ser dois bilhões".

A diretora do WFP disse que esta agência das Nações Unidas foi também muito atingida pelo aumento dos preços, já que destina 80% de seu orçamento para comprar produtos alimentícios para destiná-los aos mais necessitados.

"É necessária uma urgente estabilização dos preços e uma abertura dos mercados", disse Sheeran, que denunciou que o preço da tonelada de arroz passou de US$ 430 a US$ 1.000 em cinco meses, assim como que apenas 7% deste produto sejam destinados à exportação.

A diretora do PMA pediu também que os Governos facilitem a chegada de produtos humanitários às regiões mais necessitadas, eliminando alguns obstáculos criados pelo mercado.

Além disso, avaliou que, "pela primeira vez, a fome esteja em primeiro lugar das agendas internacionais", mas pediu um maior financiamento dos governos para enfrentar a crise.

Fonte:

domingo, junho 01, 2008

O país da energia

Última atualização 20/6/08 10:33


Mares de petroleo subteraneo. Rios de caldo de cana. TVs ligadas em de bagaço de cana. Elefantes debaixo do tapete da sala.





Estas imgens que pintam um tanto quanto surrealistas podem, e descrever claramente os últimos acontecimentos no setor energetico brasileiro. Quem não seria taxado de, no minimo, visionario se imaginasse, a alguns anos apenas àtras, que poderiamos produzir mais energia com cana do que com hidrodroeletrica, ou que grandes petroleiras do mundo fizessem aportes de somas monstruosas de dinheiro para comprar empresas brasileiras de etanol de cana. O mesmo certamente aconteceria com quem se arriscasse a dar um palpite no tamanho das reservas encontradas pela petrobras na costa fluminense, muito menos petróleo de alta qualidade, para não fazer como na musica, e ir parar em "Jacarepaguá". Imagine ainda dizer para um plantador de mamona que ela iria substituir 2, 3 ou até mesmo 5% do óleo disel consumido no Brasil.

Ou, quem ainda apostaria em uma empresa do ramo do álcool coma a Cosan, maior grupo sucroalcooleiro do país, comprasse a rede de postos da Esso, vencendo inclusive a Petrobras o leilão de venda, um negócio de 1 bilhão de dólares.

O descrito acima, felizmente não é um quadro de Salvador Dali, mais parece o inicio de um sonho que se concretisa. Num curtíssimo espaço de tempo, uma sucessão de notícias positivas colocou o Brasil no centro das atenções de uma das questões mais importantes deste início de século: a geração de energia. Os campos Tupi, Jupiter e Pão de Açúcar podem ser tratados como mares de petroleo correndo abaixo do fundo do mar ou como grandes elefantes embaixo do tapete da sala, pois têm o potêncial de, juntas, terem algo em torno de 100 milhões de barris de petróleo. Elefantes Grandes e Gordos, quase um Mamute.

Se essa montanha de petróleo chegar à superfície, o que ainda vai exigir muito dinheiro, tecnologia e paciência, o planejamento energético do país mudará para sempre. Do lado dos biocombustiveis, os avanços que unem biotecnologia com ciência da computação e capital de risco podem levar a produção brasileira a mudar de patamar.

Agraciados com um clima sem grandes percalcios, uma luminosidade alta, um solo rico, e extensões de terras imensas e passiveis de serem cultivadas sem ter a necessidade de avançar em as áreas de reserva florestal, como a amazônia, muito menos precisar dispor de áreas reservadas para a produção e expansão da produção de alimentos, como ocorre nos EUA, o Brasil só encontra como barreira para se tornar uma especie de "Arabia Saldita, as barreiras alfandegareas dos paises desenvolvidos, principalmente os da UE e o EUA. A transformação que se descortina é profunda e pode abrir um novo capítulo no desenvolvimento do país, impulso que será sentido por gerações futuras. "O Brasil está se tornando uma potência energética graças à combinação única de liderança em biocombustíveis com sua crescente relevância no petróleo", disse a EXAME Daniel Yergin, presidente do instituto de pesquisas Cambridge Energy Research Associates e uma das maiores autoridades do mundo em energia.

Porém, apesar dos enormes gastos do Governo em 2006 para alardiar a nossa auto-suficiência no petróleo, ainda existe uma depêndencia real de abastecimento de gás natural e petróleo, por parte do Brasil, de fornecedores politicamente inconstantes, como o Oriente Médio, a Bolívia e a Venezuela. No caso do gás, apesar de ainda sermos obrigados a queimarmos enormes volumes em nossa plataformas maritima, o Brasil importa dois terços do volume que consome.

É claro que com a confimação e posterior entrada em produção dos mega campos de Tupi, Jupiter e Pão de Açúcar, esses deficits poderão ser facilmente revertidos. Como tudo o mais que diz respeito ao petróleo, essas estimativas só vão, se forem, virar realidade quando o negro e grosso (neste caso fino) líquido conseguir jorar das profundezas em que se encontram e conseguir chegar chegar às refinarias em terra o que, nas melhor das ipoteses irá ocorrer, dentro de aproximadamente 5 a 10 anos. Fazer isso acontecer e rápido será a grande tarefa do país daqui por diante. Os depósitos estão a 250 quilômetros da costa e a 7 mil metros de profundidade. Embora a Petrobrás seja, reconhecidamente, a maior especialista na exploração em águas profundas do mundo, o desafio técnico é imenso.

Não só o desafio técnico é imenso como os investimento para a exploração total das novas jazidas do no pré-sal devem, os cálculos preliminaries, apontam para investimentos de 2 bilhões de dólares para colocar um único poço em produção, e haverá a necessidade de, ao menos, dez poços. Só então o petróleo vai ser riqueza para o país e para as empresas que o produzem. Se forem mantidos os preços atuais, na casa de 113 dólares o barril (e há quem projete altas ainda maiores), poucos têm dúvida de que a exploração valerá a pena. Por outro lado, apesar da instabilidade no Oriente Médio, onde estão dois terços das reservas comprovadas, não há garantia nenhuma de que o preço do petróleo não volte a cair bruscamente, como já aconteceu duas vezes desde o choque dos anos 70. Isso pode significar que os campos permaneçam inexplorados por falta de viabilidade econômica.

Mesmo com tantas incertezas, a riqueza de petróleo estimula a imaginação. Uma das especulações inevitáveis diz respeito à mudança da matriz energética brasileira. Até hoje, o petróleo e o gás costumavam ser analisados separadamente da energia elétrica e de outras fontes. Mas a abundância de gás natural na costa do Sudeste pode levar a uma mudança de planos. "Como boa parte dos consumidores está concentrada nessa região, a demanda poderia ser suprida com termelétricas alimentadas com o novo gás", diz Edmilson Moutinho, especialista em petróleo e professor do Instituto de Eletrotécnica e Energia da Universidade de São Paulo.

Quanto à necessidade de construir uma nova usina nuclear, Moutinho é mais enfático: "Se o potencial dos novos campos for confirmado, Angra 3 vai para o espaço". Ainda é cedo para afirmar se as hidrelétricas perderão ou não importância na matriz energética do Brasil. De qualquer forma, o país poderá se dar ao luxo de escolher qual fonte de energia será mais conveniente para sua economia. E esse é um privilégio de poucos.

Outra vantagem de que o país desfruta em energia é na indústria de biocombustíveis. No final de abril, a Companhia Nacional de Abastecimento divulgou novo recorde na produção de etanol. Devem ser produzidos neste ano até 27,4 bilhões de litros do combustível, o que representaria aumento de 20% sobre o ano de 2007. É diante de um cenário de crescimento formidável que a indústria de etanol brasileira se vê às portas da maior transformação de sua história.

Investimentos bilionários em tecnologia, feitos aqui e no exterior, vão permitir que a cana-de-açúcar seja a matéria-prima não só de álcool e açúcar mas de uma série de combustíveis de nova geração, além de fornecer uma parcela importante da energia elétrica consumida no país. Uma usina terá a possibilidade de destinar a sacarose para a produção de diesel e gasolina de açúcar ou bioplásticos. O bagaço poderá ser queimado para a geração de eletricidade ou então servir de alimento para microorganismos geneticamente modificados que vão digerir os restos da moagem para gerar ainda mais combustível, o chamado etanol de celulose. O potencial de energia elétrica resultante da queima do bagaço de cana é enorme.

No ano passado, a bioeletricidade representou apenas 3% da matriz elétrica brasileira. Projeções da União da Indústria de Cana-de-Açúcar (Unica) indicam que essa energia deverá alcançar participação de 15% na matriz nacional. Isso significa que as usinas de açúcar e álcool vão passar dos atuais 1 400 megawatts de potência para 11 500
em 2015. Até 2021, serão 14 400 megawatts o equivalente à geração da hidrelétrica de Itaipu, que responde por 20% do abastecimento do país. "Hoje, o etanol é o negócio mais importante da indústria sucroalcooleira, seguido do açúcar. No longo prazo, a bioeletricidade sera o segundo negócio das usinas, passando o açúcar", diz Marcos Jank, presidente da Unica.

Não é apenas o bagaço que tem potencial de transformar o que se entende por uma empresa sucroalcooleira. A Crystalsev anunciou em abril a criação de uma joint venture com a Amyris, companhia de biotecnologia do Vale do Silício, para a geração de diesel à base de canade- açúcar. Com o uso de uma levedura modificada geneticamente, a sacarose pode ser transformada em um novo tipo de combustível, que tem as mesmas propriedades do diesel tradicional e que, portanto, pode ser misturado em proporções de até 80% com o combustível de origem fóssil.

A tecnologia também permite a produção de gasoline e querosene de aviação com cana-de-açúcar. A Amyris- Crystalsev, como foi batizada a nova empresa, vai inicialmente produzir o diesel em uma usina da Santelisa Vale, mas já está em entendimentos com outras produtoras de São Paulo. O objetivo é atingir 4 bilhões de litros do novo biodiesel a partir de 2011. A mesma Crystalsev também tem uma parceria com o conglomerado químico Dow Chemical para abrir uma unidade de produção de bioplásticos de açúcar. "As usinas estão se transformando em biorrefinarias", diz Rui Lacerda Ferraz, presidente da Crystalsev, trading controlada pela Santelisa Vale. "Com uma única plataforma, a cana, será possível olhar para o mercado e optar pelos produtos com melhor retorno."

Outro sinal da rápida evolução do setor foi a compra da rede de distribuição Esso, do grupo americano Exxon-Mobil, pela Cosan, maior empresa sucroalcooleira do país. Com o negócio, avaliado em 1 bilhão de dólares, a Cosan tornou-se a primeira produtora de etanol 100% verticalizada do plantio de cana-de-açúcar à bomba de combustível. Em primeiro lugar, a empresa incorpora uma rede de distribuição com 1 500 postos, a maioria deles localizada
no estado de São Paulo, onde também estão suas 18 usinas de etanol há outras três em construção em Goiás. Isso facilitará o escoamento e reduzirá custos, melhorando a rentabilidade do negócio.

Há ainda outros ganhos. "Atuar na distribuição nos permitirá o acesso a informações do mercado na composição dos preços", disse a EXAME Rubens Ometto, presidente da Cosan. A formação de preços ao consumidor sempre foi considerada uma das maiores caixas-pretas do setor. "De um lado, eram cinco ou seis distribuidoras. Do outro, mais de 200 produtores. Havia um desequilíbrio muito grande. O mercado sempre foi muito favorável ao comprador", diz Ometto.

Controlar os processos que vão desde a extração da matériaprima até o tanque dos carros não é novidade na indústria de combustíveis assim operam as maiores petrolíferas do mundo. Foi justamente de olho nas oportunidades geradas pela integração da cadeia produtiva que a britânica BP, antiga British Petroleum, anunciou no final de abril a aquisição de 50% da Tropical BioEnergia. A empresa, fundada pela Santelisa Vale e pelo grupo Maeda, está construindo uma usina na cidade de Edéia, em Goiás, e tem planos de abrir uma segunda unidade, num investimento estimado em 1 bilhão de dólares.

Com a associação, a BP tornou-se a primeira das gigantes do petróleo a entrar na produção de etanol no Brasil. As possibilidades de integração oferecidas pela indústria instalada no país foram decisivas, disse a EXAME Philip New, presidente da BP Biofuels, a unidade de biocombustíveis da petrolífera britânica: "Acreditamos que a indústria de etanol será parecida com a de petróleo. É um negócio que se baseia em localização, acesso aos recursos e infra-estrutura de produção e distribuição".

Além de um futuro auspicioso em termos energéticos, o país também pode dar um salto sentido por muitas gerações. "O Brasil está ganhando um presente", diz o economista Vladimir Pinto, analista de petróleo e estrategista de renda variável do Unibanco, sobre as descobertas da Petrobras. "Uma boa política seria acumular reservas e utilizá-las como um trampolim para resolver problemas de diversas áreas e melhorar a eficiência da economia." Vladimir Pinto dá o exemplo do Chile, que mantém uma reserva nacional formada com o dinheiro da exportação de cobre, à qual o governo pode recorrer em um momento de crise. Funciona, portanto, como uma espécie de colchão para amortecer choques de fases adversas.

Outro modelo é o da Noruega, que constituiu fundos nacionais abastecidos com a renda de petróleo. O país já amealhou mais de 300 bilhões de dólares com esse sistema. No caso brasileiro, um fundo semelhante poderia ser aplicado, por exemplo, na redução da carga tributária exagerada sobre outros setores, melhorando sua competitividade. Pelo mesmo raciocínio, poderia haver uma diminuição dos encargos trabalhistas. Ou, ainda, o dinheiro poderia tapar o rombo da Previdência, a fim de construir uma transição para um modelo de seguridade social viável no longo prazo. "O Brasil é uma economia diversificada e não tem por que ser um dependente da renda de petróleo, como os países árabes", afirma Pinto. Em vez de engessar, o dinheiro extra da energia pode dar mais dinamismo à economia além de protegê-la contra crises internacionais.

Mas um grande poder deve ser acompanhado de uma grande responsabilidade. "Gerenciar bem a nova riqueza será um processo econômico e político desafiante nos próximos anos", diz Terry Lynn Karl, professora de ciência política e estudos da América Latina da Universidade Stanford, na Califórnia. Terry é autora de The Paradox of Plenty ("O paradoxo da abundância", numa tradução livre), uma análise do impacto de descobertas de petróleo em países como Venezuela, Nigéria, Argélia, Irã e Noruega. Ela afirma que, diferentemente do que diz o senso comum, a riqueza mineral pode ser uma fonte de sérios problemas em países que têm um Estado fraco ou ineficiente.

Os dólares a mais podem sobrevalorizar a moeda nacional, prejudicando outros setores exportadores e os esforços de diversificação da economia. Isso pode provocar inflação, escassez de bens de consumo e, conseqüentemente, mais desigualdade. É claro que o nível de desenvolvimento da economia e das instituições brasileiras não pode ser comparado ao de países endemicamente pobres, como Nigéria e Argélia. Mas existem outras armadilhas. "Uma delas é a corrupção", diz Terry. Outra é o uso político da riqueza basta olhar para o exemplo venezuelano.

A explosiva mistura de petróleo com política certamente fará parte da agenda nacional no futuro próximo. Em Brasília, já se discute de que forma o governo poderá tirar proveito da bonança que está no fundo do oceano. As conversas rondam uma seara delicada. Tocam a questão do modelo escolhido pelo país quando este decidiu abrir o setor de petróleo à iniciativa privada, em 1997. Um dos perigos à vista são as atitudes do governo no sentido de colocar o investimento estatal na frente. "O governo não tem trabalhado para que o ambiente regulatório seja estável", diz o consultor Adriano Pires, diretor do Centro Brasileiro de Infra-Estrutura.

Pires refere-se à decisão de tirar de leilão 41 dos blocos de exploração do país logo após a descoberta do campo de Tupi. O Conselho Nacional de Política Energética (formado por nove ministérios e por integrantes da sociedade civil para discutir questões energéticas de médio e longo prazo do país) está estudando qual seria o modelo ideal para regular o setor de petróleo. Maurício Tolmasquim, presidente da Empresa de Pesquisa Energética, ligada ao Ministério de Minas e Energia, defendeu recentemente a mudança na legislação. "O Brasil atingiu outro patamar em reservas", disse ele, para justificar uma revisão. Mas, para especialistas, não há como encarar o enorme desafio da exploração sem contar com os recursos financeiros e a tecnologia da iniciativa privada.

No campo do etanol também existem obstáculos a superar. Do lado tecnológico, o país não tem condições de competir com os investimentos americanos no etanol de celulose. Além de um fundo do governo Bush de 3,6 bilhões de dólares, os investidores de risco que ajudaram a criar a economia da internet estão agora voltando seus dólares para as energias renováveis. Para ficar em um único exemplo: Vinod Khosla, um dos fundadores da Sun Microsystems e um dos investidores mais renomados do Vale do Silício, tem em seu portfólio nada menos que 11 empresas que investigam maneiras de produzir etanol de celulose e outros combustíveis verdes.

Mas ficar para trás nessa corrida tecnológica pode não ser uma tragédia. O Brasil tem vantagens incontestáveis na oferta de matéria-prima orgânica que dará origem ao etanol de celulose. Dos 400 milhões de toneladas de cana processados na safra passada, restaram 120 milhões de toneladas de bagaço, acomodadas ao lado das usinas. O detalhe pode parecer insignificante, mas será fundamental para dar competitividade ao etanol celulósico brasileiro. Isso porque nos Estados Unidos a palha de milho principal candidata a insumo do biocombustível de segunda geração fica espalhada, depois da colheita, por uma area imensa. "Qual será o custo só para recolher essa matéria-prima do campo?", diz Ivo Fouto, diretor da Biocel, empresa de biotecnologia da Votorantim Novos Negócios. Ou seja, mesmo que os americanos vençam a batalha tecnológica, dificilmente o Brasil perderá a condição de principal produtor mundial de etanol.

Não há como negar: numa época em que as questões energéticas e o aquecimento global se tornaram itens prioritários na agenda de governantes, empresários e cidadãos de todo o mundo, o Brasil tem uma posição invejável. Transformar a promessa em realidade vai exigir firmeza política, competência técnica e dinheiro. O prêmio será um salto para a economia brasileira que só começa a ser imaginado e que pode representar um impacto comparável ao da industrialização, mais de meio século atrás. Um pouco de sorte também vai ajudar por mais que o país já tenha acertado na loteria ao encontrar dois elefantes no fundo do oceano.

* Por Fabiane Stefano, Samantha Lima e Sérgio Teixeira Jr.
Fonte: Revista Exame

Uso de óleo bruto de girassol em motor diesel.

A retomada de estudos sobre o uso de óleos vegetais como combustível, apoiada pelo governo federal através do Programa Brasileiro de Biocombustíveis, foi o principal incentivo para a inserção do Instituto Agronômico nessa área de conhecimento. Dispondo de técnicos especialistas em oleaginosas, em testes de tratores agrícolas e de bancada dinamométrica, o desenvolvimento de projetos só dependia de recursos financeiros, o que foi conseguido junto à FAPESP (Proc. 02/04492-0). A utilização de biocombustíveis é uma alternativa para reduzir a dependência de derivados de petróleo e a emissão de poluentes, abrindo novas oportunidades de negócios e de geração de emprego.

O projeto, ora em desenvolvimento pelo Instituto Agronômico, no Laboratório de Ensaios de Tratores do Centro de Engenharia e Automação, compreende o estudo do:

  • uso do óleo bruto (cru ou puro) de girassol extraído a frio - concluído;
  • uso de biodiesel de girassol - a realizar.

O objetivo é estudar o efeito de biocombustíveis originados de girassol no desempenho e no comportamento do motor de trator agrícola.


Os testes estão sendo realizados em um trator Valmet 68, ano 83, equipado com motor MWM D229.3, injeção direta, novo.

PRIMEIROS RESULTADOS


Os resultados obtidos na primeira fase deste trabalho, isto é, com o uso de óleo bruto de girassol na alimentação do motor, mostraram que houve: a) redução de 7,1 a 10,1 % na potência na TDP; b) aumento de 13,9 a 16,0 % no consumo específico de combustível na tomada de potência; c) escorrimento de óleo combustível na junta da tubulação de escape com menos de 10 h de funcionamento.


A análise do óleo do cárter, que mostrava-se bastante espesso, apontou elevação acentuada da viscosidade, elevadíssima presença de produtos de oxidação e fuligem, queda acentuada de reservas alcalinas além de elevado teor de chumbo, indicando possível desgaste em casquilhos.

POSIÇÕES EQUIVOCADAS


Até pouco tempo atrás, observava-se que o uso do óleo bruto de girassol estava sendo estimulado por extensionistas, em dias de campo e em feiras agrícolas, como uma alternativa para o pequeno agricultor abastecer seus tratores. Algumas notícias apregoavam que “o óleo de girassol pode aumentar em até 20 % o rendimento do motor sem lhe causar nenhum problema”.

O alardeamento precipitado de informações dessa natureza, confundem o leitor e consagram resultados errôneos e/ou equivocados. Convém lembrar que o OBG; contém glicerina, material que lhe confere alta viscosidade, tem ponto de fulgor e densidade superiores em relação ao óleo diesel, o que já apontariam para um baixo desempenho do motor. Por ser mais viscoso o óleo vegetal não consegue ser adequadamente pulverizado pelos bicos injetores, não permitindo uma queima adequada do combustível, o que acabará formando depósitos nos bicos e cabeçotes, causando , além do baixo desempenho a redução da vida útil do motor.


Outra confusão em algumas matérias sobre o assunto é a nomenclatura. Usa-se indistintamente “biocombustível, biodiesel e óleos vegetais, como sinônimos. Cabe esclarecer que, na comunidade européia, onde a utilização de combustíveis alternativos já é possível, entende-se como: a) biocombustível, o combustível líquido ou gasoso produzido a partir da biomassa; b) biomassa, a fração biodegradável de produtos e resíduos provenientes da agricultura, da silvicultura e das indústrias conexas, bem como a fração biodegradável dos resíduos industriais e urbanos.

São considerados biocombustíveis, pelo menos, os produtos indicados a seguir:
bioetanol, biodiesel, biogás, biometanol, bioéter metílico, bio-ETBE, bio-MTBE, biocombustíveis sintéticos, biohidrogênio e óleo vegetal puro produzido a partir de plantas oleaginosas. A diretiva européia admite o óleo vegetal puro como combustível, “se produzido por pressão, extração ou métodos equivalentes, em bruto ou refinado, mas quimicamente inalterado e quando sua utilização for compatível com o tipo de motor e respectivos requisitos relativos à emissões”.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Diversos estudos foram feitos com óleos vegetais brutos (ex. canola, girassol, algodão, soja) na década de 80, como substitutivo do óleo diesel ou misturado a ele. É certo que em testes de curta duração o óleo vegetal puro consegue movimentar um motor diesel desenvolvendo potência em níveis até razoáveis. Os problemas acontecem ao longo do tempo de uso: a literatura registra principalmente a ocorrência de depósito de carvão nos pistões e bicos injetores, falhas no sistema de alimentação e contaminação do óleo lubrificante. Por esta razão o óleo vegetal passou a ser quimicamente modificado, constituindo-se no que se conhece como biodiesel.


A despeito de países, como os Estados Unidos, Alemanha e França terem veículos usando o biodiesel como combustível, em misturas de até 20% (B20), a adoção dessa prática no Brasil deve necessariamente passar por diversos testes e experiências de viabilidade. As principais questões ora em debate nos grupos de estudos onde participam governo, empresas do setor automotivo e instituições públicas dizem respeito às características físico-químicas do biodiesel (atendimento as normas EN 14214, ASTM D6751, ANP 255), nível da mistura a ser autorizada (tem a ver com a disponibilidade do produto e atendimento à especificação do óleo diesel comercial – ANP 310), aproveitamento do subproduto gerado pelo biodiesel, possibilidade de pequenas alterações no motor (troca de anéis de borracha nitrílica por material mais resistente ao desgaste, como o viton, por exemplo), sistema de distribuição dos combustíveis, incentivo à produção de oleaginosas, entre outras. Em função disso, toda a informação que puder ser acrescentada às discussões contribuirá para que as decisões governamentais sejam adequadas à realidade brasileira. Juntamente com a decisão política de autorizar o uso do biodiesel, deverão existir incentivos à fabricação do produto, bem como garantias do fabricante do motor para a utilização desse combustível.


José Valdemar Gonzalez Maziero; Ila Maria Corrêa
Centro APTA de Engenharia e Automação


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