domingo, junho 01, 2008

Uso de óleo bruto de girassol em motor diesel.

A retomada de estudos sobre o uso de óleos vegetais como combustível, apoiada pelo governo federal através do Programa Brasileiro de Biocombustíveis, foi o principal incentivo para a inserção do Instituto Agronômico nessa área de conhecimento. Dispondo de técnicos especialistas em oleaginosas, em testes de tratores agrícolas e de bancada dinamométrica, o desenvolvimento de projetos só dependia de recursos financeiros, o que foi conseguido junto à FAPESP (Proc. 02/04492-0). A utilização de biocombustíveis é uma alternativa para reduzir a dependência de derivados de petróleo e a emissão de poluentes, abrindo novas oportunidades de negócios e de geração de emprego.

O projeto, ora em desenvolvimento pelo Instituto Agronômico, no Laboratório de Ensaios de Tratores do Centro de Engenharia e Automação, compreende o estudo do:

  • uso do óleo bruto (cru ou puro) de girassol extraído a frio - concluído;
  • uso de biodiesel de girassol - a realizar.

O objetivo é estudar o efeito de biocombustíveis originados de girassol no desempenho e no comportamento do motor de trator agrícola.


Os testes estão sendo realizados em um trator Valmet 68, ano 83, equipado com motor MWM D229.3, injeção direta, novo.

PRIMEIROS RESULTADOS


Os resultados obtidos na primeira fase deste trabalho, isto é, com o uso de óleo bruto de girassol na alimentação do motor, mostraram que houve: a) redução de 7,1 a 10,1 % na potência na TDP; b) aumento de 13,9 a 16,0 % no consumo específico de combustível na tomada de potência; c) escorrimento de óleo combustível na junta da tubulação de escape com menos de 10 h de funcionamento.


A análise do óleo do cárter, que mostrava-se bastante espesso, apontou elevação acentuada da viscosidade, elevadíssima presença de produtos de oxidação e fuligem, queda acentuada de reservas alcalinas além de elevado teor de chumbo, indicando possível desgaste em casquilhos.

POSIÇÕES EQUIVOCADAS


Até pouco tempo atrás, observava-se que o uso do óleo bruto de girassol estava sendo estimulado por extensionistas, em dias de campo e em feiras agrícolas, como uma alternativa para o pequeno agricultor abastecer seus tratores. Algumas notícias apregoavam que “o óleo de girassol pode aumentar em até 20 % o rendimento do motor sem lhe causar nenhum problema”.

O alardeamento precipitado de informações dessa natureza, confundem o leitor e consagram resultados errôneos e/ou equivocados. Convém lembrar que o OBG; contém glicerina, material que lhe confere alta viscosidade, tem ponto de fulgor e densidade superiores em relação ao óleo diesel, o que já apontariam para um baixo desempenho do motor. Por ser mais viscoso o óleo vegetal não consegue ser adequadamente pulverizado pelos bicos injetores, não permitindo uma queima adequada do combustível, o que acabará formando depósitos nos bicos e cabeçotes, causando , além do baixo desempenho a redução da vida útil do motor.


Outra confusão em algumas matérias sobre o assunto é a nomenclatura. Usa-se indistintamente “biocombustível, biodiesel e óleos vegetais, como sinônimos. Cabe esclarecer que, na comunidade européia, onde a utilização de combustíveis alternativos já é possível, entende-se como: a) biocombustível, o combustível líquido ou gasoso produzido a partir da biomassa; b) biomassa, a fração biodegradável de produtos e resíduos provenientes da agricultura, da silvicultura e das indústrias conexas, bem como a fração biodegradável dos resíduos industriais e urbanos.

São considerados biocombustíveis, pelo menos, os produtos indicados a seguir:
bioetanol, biodiesel, biogás, biometanol, bioéter metílico, bio-ETBE, bio-MTBE, biocombustíveis sintéticos, biohidrogênio e óleo vegetal puro produzido a partir de plantas oleaginosas. A diretiva européia admite o óleo vegetal puro como combustível, “se produzido por pressão, extração ou métodos equivalentes, em bruto ou refinado, mas quimicamente inalterado e quando sua utilização for compatível com o tipo de motor e respectivos requisitos relativos à emissões”.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Diversos estudos foram feitos com óleos vegetais brutos (ex. canola, girassol, algodão, soja) na década de 80, como substitutivo do óleo diesel ou misturado a ele. É certo que em testes de curta duração o óleo vegetal puro consegue movimentar um motor diesel desenvolvendo potência em níveis até razoáveis. Os problemas acontecem ao longo do tempo de uso: a literatura registra principalmente a ocorrência de depósito de carvão nos pistões e bicos injetores, falhas no sistema de alimentação e contaminação do óleo lubrificante. Por esta razão o óleo vegetal passou a ser quimicamente modificado, constituindo-se no que se conhece como biodiesel.


A despeito de países, como os Estados Unidos, Alemanha e França terem veículos usando o biodiesel como combustível, em misturas de até 20% (B20), a adoção dessa prática no Brasil deve necessariamente passar por diversos testes e experiências de viabilidade. As principais questões ora em debate nos grupos de estudos onde participam governo, empresas do setor automotivo e instituições públicas dizem respeito às características físico-químicas do biodiesel (atendimento as normas EN 14214, ASTM D6751, ANP 255), nível da mistura a ser autorizada (tem a ver com a disponibilidade do produto e atendimento à especificação do óleo diesel comercial – ANP 310), aproveitamento do subproduto gerado pelo biodiesel, possibilidade de pequenas alterações no motor (troca de anéis de borracha nitrílica por material mais resistente ao desgaste, como o viton, por exemplo), sistema de distribuição dos combustíveis, incentivo à produção de oleaginosas, entre outras. Em função disso, toda a informação que puder ser acrescentada às discussões contribuirá para que as decisões governamentais sejam adequadas à realidade brasileira. Juntamente com a decisão política de autorizar o uso do biodiesel, deverão existir incentivos à fabricação do produto, bem como garantias do fabricante do motor para a utilização desse combustível.


José Valdemar Gonzalez Maziero; Ila Maria Corrêa
Centro APTA de Engenharia e Automação


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Um comentário:

cRiPpLe_rOoStEr a.k.a. Kamikaze disse...

Óleo vegetal bruto se dá melhor em motores de injeção indireta mesmo. Como é mais comum pré-aquecer o cabeçote antes da partida num motor de injeção indireta mesmo em dias quentes, já fica bem mais fácil a glicerina sofrer uma combustão mais completa ao invés de polimerizar.