quinta-feira, julho 03, 2008

A Energia limpa não pode se contrapor à busca de alternativas

Curitiba - O Brasil tem a matriz energética mais limpa do planeta, pois quase metade dos combustíveis usados (44,7%) são renováveis. No entanto, isso não o livra da preocupação e responsabilidade em buscar alternativas para desacelerar o crescimento da energia gasta com transporte, seja pelo esgotamento do petróleo ou pelo apelo ambiental de reduzir as emissões de gases responsáveis pelo efeito estufa.

A avaliação é da pesquisadora da Universidade Federal Fluminense (UFF), Márcia Valle Real, que defende a ampliação das pesquisas com biocombustíveis de segunda geração. A estudiosa foi uma das palestrantes no seminário internacional de meio ambiente dirigido à imprensa promovido, esta semana, pela Volvo do Brasil, no Rio de Janeiro.

Márcia levou em conta o histórico de crescimento no consumo de petróleo com transporte no Brasil para alertar sobre a necessidade urgente da indústria automobilística em desenvolver veículos mais eficientes e que usem combustíveis renováveis, bem como dos governos em repensar o planejamento urbano e investir em outros modais de transporte. Na década de 70, o setor de transporte representava 45,4% do consumo de petróleo e, em 2005 (último dado disponível), passou para 60,3%. Já o setor industrial fez um movimento inverso: reduziu sua participação no consumo de petróleo de 19,8% para 9,4%, no mesmo período.

Segundo a pesquisadora, o transporte rodoviário – que representa 81% entre os modais disponíveis – é o que mais consome petróleo no mundo. No Brasil, a participação é ainda maior: 92,1%. Desse total, 46,6% são veículos leves e 53,4% veículos de carga e coletivos. A projeção é de que a frota mundial aumente dos atuais 800 milhões de veículos para 1,3 bilhão até 2030 (crescimento de 80%), o que causaria um impacto significativo no consumo de combustíveis.

Considerando as alternativas de combustíveis ‘‘tecnologicamente viáveis’’ para uso em motores de combustão interna, Márcia coloca o etanol como melhor opção para o Brasil. Ela pondera que o gás natural veicular (GNV) é um combustível ainda em expansão no País, o metanol tem produção pequena e o GLP (gás liquefeito de petróleo) é importado e, por isso, desvantajoso sob o aspecto econômico. Quanto ao hidrogênio, que seria outra alternativa, a pesquisadora lembrou que se trata de tecnologia nova e ainda não disponível no Brasil. Ela acredita que a ‘‘era do petróleo está chegando ao fim’’ e que a solução para o substituir na matriz energética mundial não será única.

O pesquisador da Universidade Uppsala, da Suécia, Kjell Aleklett, também presente no seminário, vai mais longe. Ele defende que, além da substituição dos combustíveis fósseis pelos alternativos, o mundo pense em formas de consumir menos energia. ‘‘Considerando uma escala de 4 mil anos, o pico de consumo do petróleo é agora’’, afirmou o especialista. Segundo sua projeções, hoje o mundo consome 85 milhões de barris de petróleo por dia e deve chegar a 87 milhões até 2010.

Os Estados Unidos, maior consumidor de petróleo do mundo, destacou Aleklett, devem aumentar as importações em 30 milhões de barris por dia, até 2030: de 48 milhões para 78 milhões. ‘‘Mas, os países exportadores serão os mesmos’’, ponderou o pesquisador ao falar da tendência de redução nas exportações pelos principais produtores por causa do recuo na capacidade de extração. O campo de Cantarell, no Golfo do México, exemplificou, reduziu de 2 milhões de barris por dia para 1,5 milhão, entre 2006 e 2007. Segundo ele, existem 47 mil campos de petróleo no planeta, mas apenas 1% dessas fontes são ‘‘gigantes’’.


Andréa Lombardo

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