sexta-feira, julho 04, 2008

Energia gerada da cana-de-açúcar mo Brasil

A energia gerada a partir da biomassa oriunda da produção de álcool e açúcar no país estão na mira da Energias do Brasil. Holding do grupo português EDP e que controla ativos de distribuição, comercialização e geração no país, a companhia pretende firmar parcerias com usinas para ter acesso ao potencial energético desse setor, que não é pequeno. Segundo fontes do setor sucroalcooleiro, o Brasil poderia gerar pelo menos 6 mil megawatts (MW) a partir do etanol, o que equivaleria às duas hidrelétricas do rio Madeira.

A Energias do Brasil é econômica ao falar sobre seu interesse. Mas admite que já estuda oportunidades nessa área e garante ter recursos suficientes para a empreitada. Tanto que um dos projetos seria a construção de quatro módulos, com capacidade individual de 100 MW e que demandaria investimentos totais estimados em R$ 1 bilhão. "É necessário investir R$ 2,5 milhões para implantar um megawatt de geração a partir do etanol", afirma António Pita de Abreu, diretor-presidente da Energias do Brasil.

Um dos primeiros módulos seria instalado na cidade de Nova Andradina (MS), que o grupo português admite estar em fase de formatação. A partir dessa "reserva de espaço", a Energias do Brasil pretende participar dos leilões em 2013, segundo o Valor apurou. A região de Nova Andradina é considerada a nova fronteira para cana e vários grupos, incluindo multinacionais, deverão erguer novas unidades produtoras e todas elas com projetos de co-geração.

Pita de Abreu observa que um dos pontos fundamentais é garantir o suprimento da biomassa. Por isso, a empresa quer ter uma participação, mesmo que minoritária, no negócio de produção de etanol.

Várias usinas de açúcar e álcool estão sendo procuradas por grandes companhias de energia para firmar parcerias em co-geração a partir do bagaço de cana. "Já fomos sondados por várias empresas, mas ainda não fechamos nada", informa Pedro Mizutani, vice-presidente-geral do Grupo Cosan, maior sucro-alcooleiro do país.

O Valor apurou que a Cosan deverá se reunir com a Energias do Brasil para discutir uma possível parceira em co-geração. Mas Mizutani desconversa. Diz apenas que o grupo tem interesse em ampliar seus negócios em co-geração.

Todas as 18 usinas da Cosan são auto-suficientes em energia. Nos últimos anos, a companhia investiu R$ 420 milhões para aumentar a capacidade de suas usinas. Nos últimos leilões realizados pelo governo, o grupo já vendeu 120 MW, mas o seu potencial pode chegar a 1.000 MW, diz Mizutani. O grupo está construindo três novas unidades, todas elas com projeto de co-geração, no sudoeste de Goiás. E a intenção da Cosan é fazer aportes de R$ 3,5 bilhões em co-geração em suas usinas nos próximos anos.

Um levantamento feito por Adriano Pires, diretor do Centro Brasileiro de Infra-Estrutura (CBIE), a pedido do Valor, mostra que em 1999 as usinas de açúcar e álcool do Brasil geravam 936 MW de energia a partir da biomassa. Mas o potencial era de 3,744 mil MW, suficiente para abastecer uma cidade de 5,6 milhões de habitantes. Em 2007, as mesmas negociaram quase 2 mil MW, mas o potencial instalado pode chegar a 10 mil MW, com capacidade para abastecer uma cidade de 14,5 milhões de habitantes.

Segundo Onório Kitayama, consultor de energia da União das Indústrias da Cana-de-Açúcar (Unica), os custos para transmissão da energia das usinas para a rede inviabilizam os investimentos do setor. "Esse mercado pode ser lucrativo, considerando que os preços do açúcar e do álcool oscilam bastante", diz.

A tacada em co-geração não é única investida do grupo português no Brasil. Além de descartar sua presença em grandes projetos hidrelétricos, como a usina de Belo Monte que deverá ir à leilão em 2009, o executivo do grupo no país conta que busca incrementar no país projetos de fonte eólica, de Pequenas Centrais Hidrelétricas (PCHs) e também de hidrelétricas com capacidade ao redor de 400 MW. A Energias do Brasil ainda estuda construir duas termelétricas a gás natural no país. E cada uma delas teria capacidade de 500 MW, ficando uma no Estado do Rio de Janeiro e outra no Espírito Santo.

Há seis meses no Brasil, o executivo mostra bastante entusiasmo com a energia eólica, principalmente após as declarações do ministro de Minas e Energia, Edison Lobão, de que pretende fazer um pregão específico para eólicas em 2009. "Temos intenção em inscrever projetos nesse leilão", diz.

Recentemente, a empresa pagou R$ 51 milhões para comprar a Central Nacional da Energia Elétrica (Cenaeel), herdando dois parques eólicos e uma carteira de 70 MW em projetos desse tipo de energia. Juntas, já geram 14 MW.


Maurício Capela e Mônica Scaramuzzo
Fonte:

Da Agência

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