quinta-feira, agosto 14, 2008

Biocombustível veio para ficar

14/08/08 - Especialistas apontam as vantagens do etanol, que se consolidou no mercado interno e está a caminho de tornar-se commodity. Petrobras investe pesado no álcool e diz que o caminho não tem volta. Executivo defende revisão no projeto de biodiesel. Temas foram debatidos no primeiro painel do dia 12 de agosto (quarta-feira), no segundo dia do 7º. Congresso Brasileiro de Agribusiness, no WTC, em São Paulo.

A energia renovável não é um modismo trazido pelas cotações recordes do petróleo. É uma fonte que veio para ficar, e isso significa uma oportunidade imperdível para o Brasil, país que tem o maior potencial bioenergético do planeta.

A chamada "janela de oportunidades" não passou despercebida à Petrobras, justamente a gigante do petróleo brasileiro. “Não há nada de estranho nisso. A Petrobrás está investindo firme em biocombustíveis e não há volta para este projeto dentro da empresa. Ele vai em frente, seguindo o que manda o futuro”, disse Paulo Canabrava, consultor de Negócios de Abastecimento da Petrobras.

O biodiesel levará algum tempo para se consolidar como combustível em larga escala, mas o etanol já é uma realidade prestes a se tornar alternativa mundial ao petróleo. “O que precisamos é levar o etanol ao grupo das commodities (matérias-primas com distribuição e cotação mundiais). Estamos investindo na compra de 26 navios em curto prazo para levar o etanol brasileiro a todos os lugares do mundo”, revelou Canabrava.

Mas há um fator que ainda emperra a globalização do etanol: a produção concentrada. Brasil e Estados Unidos dividem atualmente a liderança no mercado de etanol. Juntos, produzem 70% do álcool combustível no mundo. “Nenhum país quer comprar de um ou dois fornecedores porque é perigoso como estratégia, disse Luiz Carlos Corrêa Carvalho, presidente do Comitê Nacional de Agroenergia da Abag. “Por isso precisamos que outros países se tornem fortes no etanol também, para ampliar o mercado, que é muito promissor”.

No mercado interno, o etanol já ultrapassou a gasolina nos postos de combustíveis neste ano. E a produção não pára de crescer. Hoje são 20 bilhões de litros por ano, volume 14% superior ao do ano passado e quase 100% maior em relação a 2002. Até mesmo a indústria química, que havia abandonado o álcool na década de 1980 em favor da nafta (derivado de petróleo) vem retomando o combustível. “Vale a pena usar o etanol como base para a produção de plástico. E não só pelo preço astronômico do petróleo, mas também porque é uma tecnologia menos poluente”, afirmou Weber Porto, presidente da Evonik Degussa Brasil, empresa química de origem alemã que adotou a matéria-prima vegetal.

Outra prova da versatilidade da natureza é a geração de bioeletricidade. A partir de resíduos da cana-de-açúcar que normalmente são queimados, como bagaço e palha, é possível produzir energia elétrica a custo e impacto ambiental mais baixos do que as complexas hidrelétricas ou as poluentes termelétricas. “O que iria poluir a natureza pode servir para gerar energia limpa”, disse Carlos Roberto Silvestrin, consultor da União da Indústria da Cana-de-Açúcar (Única)

Para ele, com pouco tempo e investimento essa opção de energia renovável pode passar dos atuais 3% da matriz energética brasileira para 15%. Silvestrin afirma que o esmagamento da cana produz um terço de caldo (que geram o açúcar e álcool), um terço de bagaço e um terço de palha. “Ou seja, dois terços da planta são inutilizados quando poderiam virar energia”.

Revisão no biodiesel

Se o etanol só traz otimismo, o biodiesel deveria ser revisto como política de energia renovável no Brasil. A opinião é de Marcello Brito, diretor comercial do Grupo Agropalma, para quem “às vezes, é melhor dar dois passos atrás e retomar a jornada a insistir num caminho errado”. Brito afirmou que mais da metade do biodiesel fabricado hoje no Brasil vem da soja, o que não condiz com a idéia de aproveitamento ideal de culturas para transformação em combustível. “O Brasil critica os Estados Unidos por estarem usando milho para fazer etanol, mas nós estamos usando soja, que é também um alimento importante, para fazer biodiesel. Isso pressiona os preços dos alimentos desnecessariamente”, disse ele.

Para ele, há um problema sério na escolha das matérias-primas para o biodiesel, fomentado sobretudo pelo governo federal. “O dinheiro público tem financiado projetos para a produção da mamona, por exemplo, e ninguém usa essa planta para fazer biodiesel. Mas o governo insiste”. Há ainda projetos para o aproveitamento do girassol, que seria um desperdício, pela nobreza do óleo desta semente.

Brito, cuja empresa produz a palma para o biodiesel, disse que até com esta planta o governo atua errado. “Há um investimento público em plantação de palma no interior da Amazônia em uma área de 100 mil hectares, mas ali não há mão-de-obra suficiente para tocar o projeto e a planta precisa ser levada de barco por 650 quilômetros até Manaus. É esse tipo de problema que precisa ser sanado”.

Pelo lado dos produtores, Brito criticou a ausência de estudos de impacto ambiental na maioria dos empreendimentos de produção de biodiesel. Numa pesquisa com duas dezenas de empresas que se dispuseram a responder a um questionário, Brito concluiu que mais da metade não tem estudo de impacto sobre água, flora e fauna e nem mesmo sabe qual o nível de emissão de carbono do próprio ciclo de produção. “Isso quer dizer que o produtor não sabe se está contribuindo para reduzir ou aumentar a poluição ambiental”, finalizou.

Campanha do etanol

A União da Indústria de Cana-de-Açucar (UNICA) lançou nesta terça durante o Congresso da Abag uma campanha especial para facilitar o entendimento sobre a importância do etanol brasileiro. A campanha, criada pela Talent, apresenta a nova marca para o etanol brasileiro associando o uso do combustível a outras atitudes sustentáveis. Com a assinatura “Etanol: uma atitude inteligente”, a campanha circulará nos principais mercados nacionais e ficará no ar até novembro.
A campanha terá apoio do site www.etanolverde.com.br

13/08/2008
Fonte: Revista Fator

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