terça-feira, março 30, 2010

O futuro dos biocombustíveis

Por José Vitor Bomtempo

O saudoso Prof. Keith Pavitt, um dos grandes iniciadores dos estudos em economia da inovação, gostava de dizer aos seus orientandos que o objetivo de uma pesquisa não é necessariamente responder as perguntas, mas torná-las melhores ou “more answerable” como dizia ele. Gostaria de começar minha participação neste blog deixando algumas perguntas que podemos nos fazer ao pensarmos no futuro dos biocombustíveis e da indústria baseada em matérias primas renováveis. Tentaremos trazer elementos e lançar discussões para, como queria o mestre Pavitt, tornar essas perguntas mais claras, melhor formuladas, se possível. Afinal, se para começar estamos citando os mestres, como dizia Inácio Rangel, ninguém resolve problemas que não consegue formular com clareza. Então, esse é o nosso esforço inicial: melhorar as nossas perguntas sobre o futuro dos biocombustiveis.

Duas notícias que mereceram destaque nas últimas semanas podem nos ajudar a pensar sobre o futuro da indústria de biocombustiveis e da posição que o Brasil pode ter nessa indústria. São dois eventos muito diferentes na sua natureza: o anúncio de um possível breakthrough na hidrólise enzimática pela Novozyme a formação da joint venture Shell Cosan.

Em 15 de fevereiro, a Novozyme, empresa de destaque na indústria de enzimas, anunciou que tinha chegado a uma redução no custo da enzima para produção do etanol de materiais celulósicos, levando-o para a faixa de 50 cents/ galão de etanol. Esse resultado permite atingir a famosa paridade com o etanol de milho americano – na faixa de US$ 2 / galão – que ainda é bem mais caro que o etanol brasileiro. Mas o que chama a atenção é a trajetória do progresso tecnológico. Não se deve esquecer que no final dos anos 90 o DOE “deu” US$ 15 milhões para a Novozyme tentar reduzir em 10 vezes o custo da enzima celulase. Isso foi feito em 3 ou 4 anos. Agora, é sobre essa base que a Novozyme anuncia ter conseguido uma redução adicional.

A segunda notícia é a do anúncio da joint venture entre Cosan e Shell, no começo de fevereiro, que criaria um grande negócio de produção e comercialização de etanol. Detalhes e repercussões .

O negócio, além de sua dimensão em termos de mercado, representa uma mudança interessante da Shell na sua atuação em biocombustíveis, tornando-se uma produtora importante de etanol. Até então a Shell tinha partiicpações em 5 negócios diferentes de biocombustíveis que exploravam 5 plataformas tecnológicas diferentes, todas vinculadas aos chamados “biocombustíveis avançados” ou biocombustíveis de 2ª ou 3ª geração. Com o movimento, a Shell faz uma entrada séria na produção de etanol. Ao mesmo tempo a Cosan ganha porte internacional e incorpora na joint venture parte dos ativos mais inovadores da Shell: Iogen e Virent.

De formas diferentes, os dois eventos – aos quais certamente voltaremos mais tarde – sublinham as grandes linhas do processo de formação da indústria de biocombustíveis do futuro. E aí chegamos às perguntas que gostariamos que discutir para toná-las melhores e mais “respondíveis”.

A premissa de base é que a indústria de biocombustíveis do futuro será bem diferente da que conhecemos hoje. Não se limitará aos produtos atuais – etanol e biodiesel, nem aos processos e matérias primas de hoje. Na formação dessa indústria, um grande número de alternativas tecnológicas e de novos modelos de negócios tem sido testadas. Como será o amanhã? Que papel o Brasil poderá ter nessa indústria? A posição competitiva em etanol garante uma posição de liderança na indústria de exploração integrada das biomassas do futuro?

Como estamos nos preparando para isso nas estratégias empresariais? Além das alianças e joint ventures, que esforços tecnológicos nossas empresas estão empreendendo? Que papel pretendem ter no futuro os atuais produtores de etanol? E a indústria química e petroquímica brasileira? E a PETROBRAS?

Que políticas de ciência, tecnologia e inovação estão sendo colocadas em prática pelo MCT? São voltadas para o futuro da indústria e a criação de vantagens competitivas nas novas bases que estão sendo desenvolvidas? Ou são voltadas para a preservação das vantagens competitivas atuais, baseadas na bem sucedida indústria brasileira do etanol?

Acho que temos perguntas demais para começar. Esperamos contribuir para formulá-las melhor nos próximos posts. Até lá.

Fonte: Blog Infopetro

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