terça-feira, março 23, 2010

Energia limpa não pode ser só retórica, afirma especialista

"Hoje, fala-se muito sobre energia renovável, mas não se faz muito". Na opinião de Aldo Vieira da Rosa, 92, professor de engenharia da Universidade Stanford, na Califórnia, esse é um dos problemas impedindo o avanço das tecnologias que podem ajudar a substituir o uso combustíveis fósseis que alimenta o aquecimento global. Autor de um livro tido como referência no estudo de energia renovável, Rosa acaba de ser admitido na Ordem Nacional do Mérito Científico no Brasil.

O cientista, que é brigadeiro da Aeronáutica e foi presidente do CNPq (Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico), escreveu "Fundamentals of Renewable Energy Processes" (Fundamentos dos Processos de Energia Renovável), livro que saiu em segunda edição em 2009 e está ganhando popularidade.

Pioneiro da pesquisa espacial no Brasil, ele deve receber seu novo título, concedido pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva, ainda neste ano. Hoje professor emérito de engenharia elétrica em Stanford, Rosa ministra um curso que está cada vez mais popular na universidade, com cerca de 60 alunos matriculados por trimestre, além de ouvintes.

"Eu explico a eles a parte teórica de como esses processos funcionam. Explico, por exemplo, como biodiesel e álcool são feitos. Mostro os princípios básicos que levam a eles", conta. "A ideia básica é que, para resolver problemas de energia, são precisos 10% de ciência e 90% de economia, política etc. Mas, sem esses 10% da ciência, não dá para discutir nem a economia nem a politica."

Antes de pesquisar energia, Rosa foi pioneiro da física espacial no Brasil e um dos criadores da Conae (Comissão Nacional de Atividades Espaciais), em 1961 -que mais tarde viria a se tornar o Inpe (Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais), em São José dos Campos (SP).

Transistor

Como pesquisador e diretor do CTA (Centro Técnico Aeroespacial), o cientista foi também um dos primeiros brasileiros na linha de frente de uma revolução na eletrônica.

"Na década de 1950, tinham acabado de inventar o transistor, e nós achávamos que o Brasil devia também começar investigações nessa área", conta. "Iniciamos então um esforço grande para localizar fontes de germânio e gálio, que pareciam ser os elementos mais importantes para isso. Hoje eles ainda são usados, mas o silício domina completamente o campo dos transistores. Foi uma decisão não muito correta nossa, mas pudemos formar pessoas para trabalhar na área."

Quando ainda era aviador, Rosa foi piloto de teste do helicóptero Beija Flor, desenvolvido em 1959 no Brasil por Henrich Focke, criador do primeiro helicóptero com autonomia de voo. Foi Rosa quem localizou Focke na Holanda em 1952 ("ele era um dos poucos projetistas alemães que não foram nem para a Rússia, nem para os EUA depois da guerra"), e o convenceu a vir para o Brasil.

"Ele veio junto com os 123 engenheiros que constituíam a turma dele na Alemanha", conta. Após desenvolver dois protótipos do Beija Flor, Focke voltou à Alemanha. Foi depois disso que Rosa assumiu a direção do Inpe e do CNPq, onde ficou até 1965, ano em que foi para a Universidade Stanford.

Recordes

Além do reconhecimento científico, Rosa experimentou sucesso no esporte. Em 2002, bateu vários recordes mundiais de natação na categoria sênior para atletas de 85 a 89 anos de idade. Dois deles -200 metros medley e 200 metros peito- ainda não foram superados.

Sobre sua admissão na Ordem Nacional do Mérito Científico, Rosa -que ainda nada 2.700 metros por dia- se diz surpreso. "Acho um pouco fora me botarem em companhia de nomes muito ilustres, dos quais não chego nem perto", afirma. "Os amigos fazem essas coisas conosco, e nós ficamos um pouco encabulados."


20/03/10
Fonte:
Da Agência

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