Em 14 de abril de 2008 o presidente norte-americano em seu discurso intitulado "Remarks on Climate Change", declarou que seu país visa produzir até 2022 a quantidade expressiva de 36 bilhões de galões de combustíveis renováveis. Sua pretensão é atingir esse objetivo com investimentos em combustíveis de nova geração. Citou o etanol celulósico como um possível biocombustível que poderia contribuir na mitigação das emissões de gases de efeito estufa, sem influenciar nos preços dos alimentos.
O Etanol Celulósico pode ser produzido a partir de qualquer subproduto agrícola, que possua lignocelulose, como espigas de milho, bagaço da cana, lascas de madeira e até grama. Muitas empresas já fazem investimentos significativos nessa tecnologia. Uma parceria entre três multinacionais americanas fabricantes de enzimas para serem aplicadas na produção do etanol celulósico já conseguiu reduzir o custo de produção em 10 vezes. De qualquer forma, esse processo ainda não é economicamente viável. No caso do etanol da cana-de-açúcar acredita-se que a produção poderá ter um aumento entre 50% e 100% com a utilização do novo processo.
O avanço preconizado nos países desenvolvidos pode acarretar barreiras não-tarifárias que limitem a entrada de biocombustíveis brasileiros, principalmente na Europa. Como acontece com a graduação alcoólica do etanol brasileiro, que é 99,3%, e na Europa a exigida é de 99,8% (diferença tecnológica substancial) ou, então, com o índice de estabilidade à oxidação do biodiesel europeu que é uma barreira ao biodiesel de soja.
No Brasil, segundo pesquisadora da Universidade de Brasília, os investimentos na pesquisa da tecnologia do etanol celulósico estão restritos a três grupos, todos ligados a universidades e o governo é o principal financiador das pesquisas. Dois consórcios foram montados na região Sudeste financiados pela Fapesp e Finep, e no terceiro o investidor é a Petrobras. Além disso, a Dedini, importante empresa do setor sucroalcooleiro em parceria com a Copersucar, Centro de Tecnologia Canavieira e a Fapesp, desenvolveu a tecnologia para o etanol celulósico Dedini hidrólise rápida (DHR). O projeto teve início na década de 1980, foi patenteado pela Dedini nos países de interesse e, hoje, conta com uma usina piloto no interior de São Paulo. Segundo a empresa, o custo de produção do etanol celulósico é de R$ 0,40 por litro.
Os investimentos em biocombustíveis de segunda e terceira gerações em países como EUA e Alemanha são muito superiores aos brasileiros. Os investimentos brasileiros ficam restritos na produção de etanol celulósico a partir do bagaço de cana. Portanto, são necessárias alianças estratégicas entre governo, universidades e empresas para fomentar a inovação tecnológica no campo dos biocombustíveis. Para uma rápida reflexão remete-se aos dados de que as publicações científicas no Brasil e Coréia são equivalentes, mas quando se verifica o número de patentes registradas constata-se que em 2004 a Coréia registrou 25.316 patentes enquanto o Brasil 1.216. A conclusão imediata é que temos ótimos pesquisadores, mas as empresas brasileiras não pesquisam e não buscam inovar, fazendo-se necessário o relacionamento profícuo com universidades (pesquisadoras por excelência) para que o Brasil não perca a dianteira tecnológica no campo dos biocombustíveis.
Com as tecnologias disponíveis hoje, a cana-de-açúcar se apresentada como a mais eficiente e economicamente favorável matéria-prima para produção de biocombustíveis. Como maior produtor mundial de cana, o Brasil possui hoje uma vantagem comparativa aos demais países, sempre enfatizada pelo atual governo, mas é possível que a posição brasileira de destaque no panorama mundial seja comprometida. Uma altenativa para evitar esse problema é direcionar uma parcela dos bilionários investimentos previstos às pesquisas em biocombustíveis de segunda e terceira gerações, pois estes garantirão que o Brasil não seja prejudicado por barreiras não-tarifárias existentes ou futuras. Que certamente surgirão.
Mas é preciso que sejamos enfáticos quando analisamos a necessidade de o País investir em inovação tecnológica, ou seja, em pesquisa e desenvolvimento, no setor de biocombustíveis. A necessidade de investimentos não é somente obrigação do governo, mas do setor como um todo, que deve aproveitar as excelentes perspectivas dos biocombustíveis hoje para traçar seu futuro dentro e fora do País. Investimentos dessa natureza e critérios de sustentabilidade serão os alicerces da perenidade da posição de destaque do Brasil no campo dos biocombustíveis.
Ernesto Cavasin, Alexandre Gellert Paris e Carlo Linkevieius Pereira - 18/06
Fonte: DiarioNet
terça-feira, julho 22, 2008
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