terça-feira, dezembro 23, 2008

terça-feira, dezembro 09, 2008

Cartilha: Herança Global - mudanças que o aquecimento global reserva

A cartilha explica, de forma bem didática, questões relacionadas às mudanças climáticas, trazendo dados sobre as emissões de gases do efeito estufa, as prováveis consequências climáticas no Brasil e no mundo, esclarecimentos sobre o Painel Intergovernamental de Mudanças do Clima e o que você pode fazer para reduzir a sua contribuição ao aquecimento global. O material, de autoria da jornalista Júlia Antunes Lourenço, foi apresentado como Trabalho de Conclusão de Curso em Jornalismo pela Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC).

A cartilha é nteressante para usadaa como ferramenta de educação ambiental. Os interessados em utilizá-la para algum fim educativo ou comercial devem entrar em contato com a autora pelo email julia.al@gmail.com.

Veja a cartilha clicando aqui

Fonte

Etanol e biodiesel, heróis ou vilões?

Até que ponto essa questão é pertinente?


Com a crise dos alimentos em 2008, governantes e empresários de várias partes do mundo relacionaram a expansão dos biocombustíveis com a alta no preço da comida. Como o mercado de energia abriga múltiplos interesses, dá para desconfiar das críticas. Mas até que ponto elas são pertinentes?

Em 2006, a produção mundial de etanol foi de 40 bilhões de litros e a de biodiesel, de 6,5 bilhões. Os EUA defendem seu etanol de milho ao afirmar que só 3% da inflação dos cereais é causada pelos biocombustíveis. Para a ONU, os biocombustíveis respondem por 10% da alta de preço da comida, e, para o Banco Mundial, por 75%.

Ao lado dessa polêmica, cresce o consenso de que biocombustível não é sempre igual. O impacto sobre o preço dos alimentos é bem diferente quando se considera o álcool combustível brasileiro, feito da cana, o etanol norte-americano, fabricadocom milho, e o biodiesel europeu, feito de grãos como o trigo. Nessa disputa, nosso país está bem posicionado.

OS GIGANTES DO ETANOL



Distribuição da produção mundial de etanol - 2007

Produção concentrada
Brasil e EUA concentram a produção de etanol. Os especialistas consideram que o etanol de cana, feito no Brasil, não ameaça a produção de alimentos. Já o etanol de milho exige que se desvie parte do cereal que iria para a mesa de milhões de pessoas,nos EUA e no México, onde o milho é a base da alimentação popular.

A EUROPA DOMINA O BIODIESEL

Distribuição da produção mundial de biodiesel, em 2006

CRESCE A PRODUÇÃO DE ETANOL

Milhares de toneladas equivalentes de petróleo

Açúcar versus grãos

Compare este gráfico com o dos preços dos grupos de alimentos, na matéria O mundo vive rebeliões por fome. Repare como são diferentes as dinâmicas dos preços do açúcar e dos grãos (veja os gráficos na matéria Por que sobe o preço dos cereais). Enquanto os grãos subiram com os combustíveis, o açúcar se comporta de maneira mais livre.

A INFLUÊNCIA DO PETRÓLEO

Variação nominal da cotação do petróleo, em média, em dólar, e dos preços dos amimentos

Comida no prato ou no motor?

A partir de 2005, os biocombustíveis feitos com grãos tornaram-se importantes para os países ricos. Lester Brown, fundador do Worldwatch Institute, prevê que daqui para a frente o preço da comida e o do petróleo estarão amarrados. Para ele, sempre que a cotação da comida for menor que a do combustível, os grãos e os recursos naturais seguirão para o setor energético.

COMPARE OS ETANÓIS



Vantagens da cana

Para a ONG Oxfam, a política de biocombustíveis dos países ricos pouco tem a ver com questões ambientais ou de segurança alimentar, como alegam seus governos, mas, sim, com sua disputa por mercados. Como prova, a entidade cita as tarifas sobre o etanol do Brasil, cujo objetivo real é proteger as próprias produções.

Do: Guia do Estudante - Atualidades e Vestibular 2009

Fonte:

Vacas menos poluentes

Cientistas do mundo todo buscam soluções para diminuir a emissão de gás metano por animais ruminantes. Uma nova pesquisa - realizada por cientistas em Zurique, em parceria com diversos países, entre eles o Brasil - mostra que plantas tropicais podem minimizar o problema. E ainda há outras iniciativas, no Reino Unido, no Brasil, na Nova Zelândia, na Suécia...


É difícil de imaginar, mas é verdade. Apesar da aparência pacata e bucólica, as vacas também são responsáveis pelo efeito estufa e o aquecimento global. Durante o processo digestivo do animal, ele emite gás metano, que é cerca de 20 vezes mais potente que o dióxido de carbono (CO2). Estima-se que 16% da poluição mundial seja proveniente da pecuária. Mas os bovinos não são os únicos vilões. Cabras, ovelhas e búfalos também causam o mesmo problema.

Diferente do ser humano, os animais ruminantes têm quatro estômagos. Os dois primeiros são o rúmen e o retículo, onde o bolo alimentar se mistura continuamente. Dentro deles, há uma concentração enorme de microorganismos (bactérias, protozoários e fungos). Como todo esse processo de fermentação dos alimentos é anaeróbico (sem presença de ar), o gás metano é produzido e acaba sendo expelido pelo animal. Uma vaca pode liberar de 150 a 500 litros de gás por dia, dependendo de sua espécie e finalidade. “O problema não está na digestão das vacas. Mas, sim, no aumento exorbitante do rebanho mundial para suprir a demanda por alimentos e outros produtos”, afirma o professor alemão Michael Kreuzer, especialista em alimentação animal, do ETH Zürich - Instituto de Ciências Animais da Escola Politécnica de Zurique.

Kreuzer estuda o assunto há mais de 20 anos. Em seus últimos experimentos, o especialista alemão constatou que, ao adicionar substâncias provenientes de plantas tropicais na dieta alimentar do animal, é possível diminuir a emissão de metano. Foram testados três tipos de aditivos alimentares. Primeiramente, gordura de coco, linhaça e de sementes de girassol. Essas substâncias conseguem inibir a proliferação de um microorganismo no rúmen, responsável pela produção do metano. Na segunda fase da pesquisa, foram testados saponinas (encontradas nos frutos do jequiriti ou quilaia) e tanino (originário de alguns tipos de acácia). “Os resultados mostraram diminuição do metano em até 20%”, revela Kreuzer. Para comprovar esses valores, a equipe do ETH colocou vacas e ovelhas dentro de uma câmara de vidro, alimentou-as durante dois dias e ficou monitorando a emissão de gases.

Os cientistas também sabem que vacas alimentadas exclusivamente com ração produzem um terço do metano do que as que comem em pastos. “O metano se origina, principalmente, da digestão da celulose dos alimentos verdes”, explica o professor do ETH. Entretanto, além do capim e feno serem bem mais baratos e saudáveis, se pecuaristas decidissem utilizar somente ração, o dano para o meio ambiente seria igualmente ruim.

Encontrar soluções “naturais” para o problema é o ideal, já que essas alternativas dificilmente afetam a qualidade nutricional e o gosto do leite e da carne. As leis européias proíbem o uso de antibióticos para reprimir a formação de metano (prática largamente utilizada em muitos países) e a injeção de microorganismos modificados geneticamente no rúmen.

Entretanto, para tornar a ingestão dos aditivos alimentares de plantas tropicais uma alternativa comercialmente viável, seria necessário que a produção dessas substâncias fosse realizada nos países de origem, já que atualmente elas ainda são raras e caras. Durante as pesquisas, elas foram adicionadas na alimentação dos animais em forma de pó.

PARCERIA BRASILEIRA

A pesquisa realizada pelo ETH Zürich conta com colaboradores essenciais para o sucesso do projeto: parcerias com universidades de vários países em desenvolvimento, como Colômbia, Peru, Brasil, Bolívia, Quênia, Etiópia, Indonésia e outros. Com isso, garante-se que pesquisadores façam um trabalho conjunto em diversas áreas. O objetivo do ETH Zürich é fomentar a pesquisa nesses lugares e encontrar soluções baratas e simples, que possam ajudar a economia local e o meio ambiente. “Queremos auxiliar os países que realmente necessitam”, diz Kreuzer.

O Brasil possui o maior rebanho comercial de bovinos do mundo. Segundo o IBGE - Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística, em 2007, o país tinha 192 milhões de cabeças, sendo 89% bovinos, 7% ovinos, 3,5% caprinos e 0,5% bubalinos. Desde 2002, o CENA/USP - Centro de Energia Nuclear na Agricultura tem uma parceria com o ETH Zürich, financiada pela AIEA - Agência Internacional de Energia Atômica. “Estamos pesquisando a utilização de plantas taniníferas brasileiras na manipulação dos microorganismos ruminais e mitigação de metano entérico”, explica Adibe Abdalla, professor do CENA. “Nas câmaras para quantificação de metano in vivo, tivemos resultados promissores com a planta Sansão do Campo (mimosa caesalpiniaefolia), adicionada à dieta de ovinos da raça Santa Inês, com uma redução de cerca de 17% na liberação do gás”, comemora Abdalla.

Os pesquisadores do CENA também estão investigando a eficácia de resíduos (co-produtos), obtidos após a extração do óleo das sementes do algodão, do pinhão manso e do girassol, utilizados para a produção de biodiesel. As chamadas “tortas” desses resíduos melhoram a qualidade da dieta dos animais e reduzem a emissão do metano em cerca de 6%.

Outro instituto brasileiro que desenvolve estudos nessa área é a Embrapa - Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária. Além de pesquisar novos tipos e a melhora da qualidade de forragens (alimentos), existe um projeto de longo prazo para produzir vacinas para controlar os microorganismos produtores de metano (metanogênicos).

Em todo o mundo cientistas se debruçam sobre o tema e realizam novas experiências. No Reino Unido, por exemplo, o professor Athole Marshall, do IGER - Institute of Grassland and Environmental Research, da Aberystwyth University, está conduzindo uma pesquisa com uma espécie de trevo, o birdsfoot trefoil (lotus corniculatus). “Estamos interessados no birdsfoot trefoil porque ele tem tanino, o que protege a proteína no rúmen e evita o inchaço do animal”, afirma Marshall. Ainda está sendo analisada a quantidade ideal de tanino para as vacas. Outro desafio dos pesquisadores ingleses é a escassez da planta no país. Além de não ser encontrada em grandes quantidades, quando plantada junto ao capim, ela acaba desaparecendo após uns dois anos.

Já na Nova Zelândia, outro lugar onde o tema é realmente levado à sério, o governo criou um órgão específico – Ministério do Meio Ambiente - responsável por achar alternativas e criar leis para conter a emissão dos chamados greenhouse gases. Quando o problema foi levado à tona, anos atrás, cogitou-se taxar os pecuaristas neozelandeses, um dos maiores exportadores mundiais, pela produção de metano pelos seus rebanhos. Os produtores disseram “não” e fizeram uma contra-proposta. Em vez de pagar taxas, financiariam pesquisas. É o que vem sendo feito. Recentemente foi divulgado o desenvolvimento de uma espécie de grama, geneticamene modificada, que é digerida mais facilmente pelas vacas e, consequentemente, libera menos gás metano. O novo capim ainda está em fase de testes.

METANO TRANSFORMADO

Algumas empresas privadas estão investindo em novas maneiras - criativas e lucrativas, para dar fim ao metano. A sueca Svensk Biogás é uma delas. Ela utiliza carnes - que seriam incineradas ou então jogadas no lixo pelos abatedouros - para produzir biogás. O metano é retirado de restos de estômago, intestino, rim, fígado e até do sangue dos bovinos, através de um processo de fermentação. Depois de tratado – filtrado com água e removido o máximo possível de CO2, o gás pode ser utilizado como combustível em carros, táxis, caminhões e, inclusive, trens. Segundo a empresa, Amanda é o primeiro trem do mundo movido somente a biogás. O produto da Svensk também é usado na frota de ônibus da cidade, Linkoping, onde fica a sede da companhia.

Além de carne de vaca, também são utilizadas sobras de porcos e galinhas. São 54 mil toneladas de dejetos transformados em cinco milhões de metros cúbicos de biogás por ano.

Outro projeto pioneiro vem de uma fazenda em Fresno, na Califórnia. O metano está sendo retirado de esterco de gado e transformado em gás. The Vintage Dairy Biogas Project virou realidade graças ao sonho e esforço do pecuarista David Albers e uma parceria estratégica com a empresa Pacific Gas and Electric, que compra e distribui o gás. Albers espera produzir gás suficiente para abastecer 1200 casas por dia.

Fonte:

Leia também: A poluição que vem da mata
Bife aguado
Mão amarela

UE consegue acordo para que 20% da energia seja renovável em 2020

09/12/08 - A União Européia (UE) alcançou hoje um acordo para que 20% da energia que consumir em 2020 seja renovável, uma das medidas de combate à mudança climática que a cúpula européia desta semana busca aprovar.

A decisão foi adotada em reunião entre representantes do Conselho Europeu, da Comissão Européia e do Parlamento Europeu que concluiu hoje, dentro da intensa série de negociações prévias que buscam definir no possível um acordo diante da cúpula da quinta e sexta-feira próximas.

O acordo estabelece que os 27 países da UE terão objetivos nacionais vinculativos para conseguir esse 20% no conjunto do bloco, assim como planos de ação detalhados para alcançar esse fim.

A Comissão Européia terá poderes para fazer um acompanhamento do cumprimento desses planos nacionais e lançar procedimentos de infração contra os países que não cumprirem.

A cláusula de revisão de 2014 não afetará os objetivos nem os planos nacionais.

Estabelece também que 10% do combustível do transporte procederá de biocombustíveis renováveis.

Dentro desses 10%, não haverá uma cota mínima obrigatória para biocombustíveis de segunda geração, hidrogênio ou eletricidade, mas está previsto um sistema de bonificação para incentivar a utilização destes.

O acordo coloca a energia renovável no topo das medidas energéticas da Europa, criará até 2 milhões de novos empregos e garantirá a liderança da UE em tecnologias de vanguarda, disse o eurodeputado Claude Turmes, em comunicado.

Fonte:

Da Agência

"O ambientalismo morreu"

Quando os ambientalistas Michael Shellenberger e Ted Nordhaus publicaram o ensaio A Morte do Ambientalismo, em 2004, sabiam que era provocativo, mas não esperavam se tornar os garotos malvados do movimento verde. Eles diziam que a onda ambientalista não seria capaz de lidar com o aquecimento global, porque o problema teria uma natureza econômica em vez de ecológica. Os responsáveis pela emissão dos gases de efeito estufa, diziam eles, eram os mesmos que fazem a economia girar. E nenhum país limitaria a emissão de carbono à custa do crescimento econômico. Essa visão desagradou à velha guarda, mas inspirou a nova geração de ambientalistas. Shellenberger e Nordhaus foram eleitos Heróis do Ambientalismo de 2008, prêmio concedido pela revista Time. ÉPOCA conversou com Shellenberger para saber mais sobre a morte do ambientalismo e o que poderá substituí-lo.

QUEM É: Presidente e estrategista político da organização ambientalista The Breakthrough Institute (algo como Instituto da Ruptura)

O QUE FEZ: Trabalhou para grandes fundações americanas, como o Sierra Club. Sua tese de mestrado em Antropologia pela Universidade da Califórnia foi sobre os conflitos de terra no Maranhão. Foi escolhido pela revista Time como um herói do meio ambiente

O QUE PUBLICOU: The Breakthrough: from the Death of Environmentalism to the Politics of Possibilities (A Ruptura: da Morte do Ambientalismo à Política das Possibilidades, em uma tradução livre)

ÉPOCA - Por que o senhor diz que o ambientalismo morreu?

Michael Shellenberger - O ambientalismo foi fundado sobre uma visão de que os humanos são intrusos na natureza. E de que a ação humana é uma contaminação. A solução óbvia seria limitar a poluição e a invasão humana. Funcionou bem para problemas pequenos e localizados, como a poluição do ar e das águas. Mas, quando enfrentamos um desafio como o aquecimento global, essa política de limitação não funciona. É preciso uma política de possibilidades, algo voltado para impulsionar as grandes aspirações humanas, algo voltado para o investimento e para a criação de uma nova economia. Algo como usar o consumo e a produção como ampliadores da capacidade humana, sem atacar o meio ambiente. E isso só será possível com fontes limpas de energia.

ÉPOCA - Qual é o problema do discurso ambiental de hoje?

Shellenberger - É importante apresentar o problema e a solução. O que o ambientalismo faz é descrever o pesadelo do aquecimento global. O movimento ecológico de hoje raramente descreve o sonho de uma economia baseada em energias limpas, num mundo onde 6,5 bilhões de pessoas podem viver prosperamente. Precisamos articular uma visão inspiradora do futuro. Se fizermos isso, seremos capazes de mobilizar uma ação coletiva para concretizar os investimentos que precisam ser feitos. Essa visão positiva, porém, não é suficiente.

ÉPOCA - Por quê?

Shellenberger - Porque os líderes ambientalistas vêem o aquecimento global como um problema de poluição similar aos do passado. No combate à chuva ácida nos Estados Unidos, foi permitido às empresas que trocassem entre si a permissão para emitir certos níveis de poluição. Mas esse modelo é restrito para enfrentar as mudanças climáticas. Elas exigem uma transformação tecnológica bem mais cara.

ÉPOCA - Que tipo de transformação?

Shellenberger - Transformações tecnológicas que nos possibilitem adotar fontes limpas de energia, mais caras que os combustíveis fósseis. Não é sensato esperar que os governos taxem os combustíveis fósseis para os consumidores procurarem as fontes de energia limpa. Politicamente, essa abordagem não vai dar certo. Especialmente durante a crise econômica. O que funcionaria seriam grandes investimentos estatais em tecnologia, infra-estrutura e educação. Os governos tradicionalmente gastam dinheiro nas recessões para estimular a economia. Agora, esse investimento deve ser feito em tecnologia para baratear energia limpa. Defendemos um portfolio de investimento em diferentes tecnologias. Pode variar da captura e do armazenamento de carbono à energia solar ou à construção de linhas de transmissão para trazer energia de lugares onde venta muito para as áreas urbanas. Há também os biocombustíveis e a energia geotérmica. Todas essas fontes de energia exigiram apoio governamental.

ÉPOCA - Qual seria o papel de economias emergentes, como o Brasil?

Shellenberger - Os países mais ricos, incluindo os EUA e os europeus, deveriam ceder US$ 100 bilhões por ano. Esse dinheiro seria investido nos países desenvolvidos e nas economias emergentes. Poderia ser usado para construir centros de captura e armazenamento de carbono na Índia ou para carros elétricos na China.

ÉPOCA - Não seria ingenuidade esperar por essa mobilização internacional?

Shellenberger - Não necessariamente. As pessoas não se dão conta, mas os EUA investiram bilhões de dólares para reconstruir a Europa após a Segunda Guerra Mundial. Eles formaram uma aliança chamada Comunidade Européia do Carvão e Aço. Essa parceria foi o embrião da União Européia e contou com investimentos centrados em energia e infra-estrutura, assim como propomos. É preciso centrar os investimentos num grupo de cerca de 20 países, com aproximadamente 80% das emissões no mundo. Isso é mais produtivo que buscar um acordo global entre mais de cem países.

ÉPOCA - E como os investimentos podem baratear as energias limpas?

Shellenberger - É só ver o que aconteceu com os chips de computador. No fim dos anos 50, cada chip custava US$ 1.000. Depois que o Ministério da Defesa investiu pesado em sua produção, o preço despencou para US$ 20. Isso pode ser feito agora com tecnologias energéticas. Devemos criar tecnologias e fazer parcerias com países como a China para produzir essa tecnologia de forma barata. Também apoiamos o Brasil, capaz de produzir etanol de cana-de-açúcar de uma maneira muito barata.

ÉPOCA - Com a economia mundial em recessão, o senhor acredita que projetos ambientais ficarão em segundo plano?

Shellenberger - Tenho uma visão particular sobre a crise e suas conseqüências. Durante a recessão, ninguém vai aumentar o preço da eletricidade. Na crise, político nenhum vai tomar a impopular medida de encarecer os combustíveis. As crises são grandes momentos para gastos governamentais, com o objetivo de estimular a economia e os novos investimentos privados.

"É preciso centrar os investimentos nos 20 países que concentram 80% das emissões. Isso é mais produtivo que buscar um acordo global"

ÉPOCA - E como essa transição para energia limpa pode ser feita agora?

Shellenberger - Algumas coisas devem ser feitas, pelo menos aqui nos EUA. A primeira seria construir redes de transmissão de energia eólica de áreas com vento para as cidades. A segunda seria subsidiar a produção de carros elétricos. Isso nos daria mais independência do petróleo estrangeiro, que, além de caro, nos deixa vulneráveis em termos de segurança internacional. A terceira medida seria educar e treinar uma nova geração de engenheiros e cientistas para essa revolução tecnológica. Propomos um plano que consumiria cerca de US$ 10 bilhões em pesquisas, bolsas de estudos, estágios e treinamentos. Deveríamos também construir parcerias com economias emergentes e pulsantes, como Índia e China, para nos afastarmos do carvão e adotarmos o gás natural ou outras fontes limpas de energia.

ÉPOCA - Qual seria o papel do Brasil?

Shellenberger - Deveria ser feita uma parceria para destinar grandes investimentos para o país em diversos setores da economia em troca da conservação da Amazônia. Como o Brasil deverá sacrificar o crescimento econômico que a exploração da floresta traria, ele deve ser compensado por isso. Essa compensação deveria ser feita em investimentos na economia. Uma coisa em que o Brasil se destaca são os biocombustíveis, principalmente o etanol. A questão é se o Brasil pode ajudar outros países com seu etanol, inclusive os EUA. Além disso, a indústria brasileira é muito avançada. O Brasil poderia produzir maciçamente painéis solares, turbinas de vento e outras tecnologias de produção de energia limpa. Finalmente, são perceptíveis os investimentos estatais brasileiros em ciência e educação. Sugiro um consórcio global para investimentos em ciência e engenharia - e o Brasil seria um importante líder nesse grupo.

ÉPOCA - É possível frear o desmatamento da Amazônia?

Shellenberger - É um dos maiores desafios ecológicos do mundo. As queimadas e os desmatamentos emitem grandes quantidades de carbono. O Brasil ocupa um papel único: deseja conservar a Amazônia para as próximas gerações, mas também quer ser uma potência agrícola e econômica. O desafio de equilibrar esses dois desejos proporciona um estudo de caso extraordinário.

Fonte : ÉPOCA

sexta-feira, dezembro 05, 2008

UE destrava caminho para biocombustíveis

A União Européia encerrou na quinta-feira a batalha interna que travava sobre o futuro dos biocombustíveis - etanol e biodiesel - em seus planos de maior utilização de energias renováveis. A conclusão do impasse, menos restritiva à agroenergia, foi comemorada pelo Brasil e deverá ajudar na criação do mercado global para o etanol.

A briga envolvia a meta obrigatória proposta pela Comissão Européia de uso de 10% de energia renovável nos transportes até 2020 para combater o aquecimento global. Grande parte disso deve vir de etanol e biodiesel, criando um amplo mercado que deve ser atendido por exportadores como o Brasil.

Mantida a meta, vem a exigência de critérios de sustentabilidade para etanol e biodiesel, que pode se transformar em uma "armadilha ecológica". Dai a importância do acordo, já que os critérios propostos pelo Parlamento Europeu eram tão restritivos que a produção de etanol só seria possível no deserto, pelos cálculos brasileiros.

Parlamentares queriam reduzir a parte de biocombustíveis e atribuir uma fatia maior da meta para a promoção de energia eólica e solar, entre outras. Mas na quinta-feira, enfim, as três grandes instituições do bloco - Comissão Européia (braço executivo da UE), Conselho (que reúne os governos), e Parlamento - chegaram a outro compromisso.

"Pelas informações de que dispomos, os resultados foram muito satisfatórios para os interesses do Brasil e de outros países em desenvolvimento", afirmou o embaixador brasileiro junto à UE, Ricardo Neiva Tavares. Já o deputado Claude Turmes, negociador pelo Parlamento Europeu, disse que o percentual de 10% para os biocombustíveis foi "seriamente minado", e que o "futuro dos carros será elétrico na Europa".

Na verdade, o Parlamento chegou a propor acabar com a meta para uso de biocombustíveis, e depois tentou limitá-la a 6%. A novidade no acordo de quinta-feira é que nada disso prosperou. Foi mantida a meta de 10% de energia renovável, sem meta determinada para etanol. Ainda assim, a primeira grande ameaça contra o produto foi superada.

Energia renovável usada em trens será levada em conta, mas isso representa menos de 1%. E o espaço para etanol e biodiesel só será reduzido se as montadoras de fato conseguirem produzir um carro elétrico competitivo, o que na situação atual parece distante.

Ambientalistas tinham aberto uma guerra contra o etanol e o biodiesel também por causa do impacto sobre o uso da terra, apontando os produtos como culpados pela explosão do preço de alimentos e desmatamento de florestas.

Mas as emendas do Parlamento para restringir o uso da terra na produção do etanol no cerrado brasileiro, por exemplo, também foram excluídas do texto final. Está valendo a restrição original da Comissão Européia, de não produção de etanol nas áreas úmidas e florestais, para que ele seja considerado sustentável.

Só que aí também houve mudanças comemoradas pelo Brasil. A proposta do Parlamento sobre definição de floresta para produção sustentável de etanol era de área com 10% de cobertura de árvores. Em área com mais de 10%, a produção deveria ser proibida.

Esse conceito foi rejeitado. Prevaleceu a definição da Comissão Européia, que considera floresta tudo que tem pelo menos 30% de árvores com mais de cinco metros. Essa restrição não é considerada muito preocupante para o Brasil, porque vegetação com densidade maior não passaria em outro critério.

Para serem enquadrados nas exigências de sustentabilidade e combate ao aquecimento, os biocombustíveis têm de garantir um mínimo de redução de efeito de gases estufa. Assim, a exigência estabelecida é que o álcool tem de reduzir as emissões em 35% ou mais quando comparado à gasolina, passando para 50% em 2017. As fábricas novas que entrarem em operação a partir de 2018 terão de reduzir as emissões em 60%.

Para o etanol brasileiro, é algo tranqüilo, pois no mínimo o produto reduz as emissões em 70% - o percentual pode chegar a 90% -, segundo especialistas. A situação muda para o biodiesel de soja.

Outra preocupação envolvia restrições sobre mudança de uso da terra para biodiversidade. O Parlamento queria deixar em aberto a possibilidade de incluir novas exigências. Agora, a redação final veta a produção de etanol em áreas de de alto valor para biodiversidade, como florestas primárias, pradarias e parques nacionais.

Ponto igualmente sensível e combatido pelo Brasil envolvia o efeito indireto do biocombustível por mudanças no uso da terra. Alguns deputados europeus consideram que a produção de etanol no Nordeste brasileiro, por exemplo, escasseia a terra para produzir alimentos e leva agricultores a desmatar a Amazônia. Dessa forma, o cálculo da eficiência ambiental do etanol importado do Brasil teria que incluir o volume de emissões de gases estufa no desmatamento da Amazônia, mesmo se não foi para produzir biocombustível.

Agora, foi aprovada uma sugestão para que a Comissão Européia apresente um relatório em 2010 primeiro analisando se o problema é importante e como lidar come ele, sem pré-julgamentos.

Com relação a critérios sociais na produção de biocombustíveis, o Parlamento queria introduzir uma lista enorme de exigências. O acordo podou boa parte. Sobraram duas exigências. Uma da Comissão Européia, que vai ter de analisar o impacto da produção de biocombustíveis - posse da terra, preços dos alimentos, condições de trabalho - a cada dois anos tanto nos países exportadores como nos países-membros do próprio bloco.

Nesse caso, o relatório deve indicar se os países exportadores ratificaram as principais convenções da Organização Internacional do Trabalho (OIT). Só uma o Brasil não ratificou, sobre unicidade sindical. A Constituição brasileira estabelece que um município só pode ter um sindicato para uma categoria.

A Comissão Européia também deve relatar o impacto dos biocombustíveis em outros aspectos ambientais - água, solos e poluição do ar, queimada de canaviais na região etc. Para os brasileiros, isso é inofensivo comparado ao que os ambientalistas queriam.

Em contrapartida, o segundo relatório detalhado sobre critérios sociais deve vir dos produtores do combustível. Uma usina de álcool em Sao Paulo vai ter de explicar ponto por ponto se respeita - e como - as condições de trabalho. Resta uma cláusula atenuante, pela qual a Comissão Européia pode determinar quais informações são realmente relevantes.

Por um acordo na Rodada Doha, o Brasil terá entre 4% e 10% do mercado de etanol europeu ao longo de sete anos. Com regras claras de sustentabilidade, fica difícil para a UE dar com uma mão (as cotas) e tirar com a outra (por meio de exigências duras). Atualmente, o Brasil já tem 70% do mercado do velho continente. Com critérios de sustentabilidade considerados equilibrados, a tendência é de o comércio ter previsibilidade.

O diálogo do Brasil com a Comissão Européia é bom, comparado às dificuldades com o Parlamento. Uma recente reação do Brasil e outros seis países, que chegaram a ameaçar denunciar a UE na Organização Mundial do Comércio (OMC), teve efeito no acordo final, acreditam técnicos.

Na prática, as duas diretivas européias - de energias renováveis e qualidade de carburantes - são centrais para o desenvolvimento da política européia para o biocombustível e para o projeto do Brasil de tornar o etanol uma commodity global. O problema agora é nos Estados Unidos, com os planos da futura administração de Barack Obama de supostamente reduzir os subsídios para a produção americana.

Fonte: