sexta-feira, julho 31, 2009

Cadê o tal de H-Bio????

Não é preciso um grande esforço para lembrar a sigla milagrosa, vendida como panaceia energético-ambiental, pelo presidente Lula durante a campanha eleitoral de 2006: o H-Bio, o diesel que aceita a mistura de óleos vegetais na fase de refino, em proporção de até 18%. O invento é da Petrobras, mas o próprio Lula, como alquimista, apresentava a fórmula em seu linguajar popular, prometendo um combustível ambientalmente mais correto que o consumido hoje, e milhões de empregos para todo lado.

Seria bem-vindo, fosse apenas pelo alívio ao meio ambiente, já que a Petrobras é recordista mundial de emissões poluidoras com o apoio do regime monopolístico (ela faz as leis para si própria) e com o apoio do governo, interessado na arrecadação de tributos e não nas emissões de lixo atmosférico.

Mas, sobre o H-Bio, depois da vitória de 2006, nem Lula nem a Petrobras comentaram. Surgem assim interrogações: tratava-se de factoide eleitoral? O H-Bio não interessa à Petrobras? Os brasileiros são todos ingênuos e crédulos?

Entre tantas incertezas, a Petrobras transformou-se num instrumento a serviço de estratégias eleitorais, de planos de poder, apenas de um partido, daquele do presidente. Acelera ou freia sua propaganda e investidas de comum acordo com o Planalto. E não poderia ser diferente, já que a própria ministra Dilma Rousseff exerce (em desvio constitucional de função, remunerada com R$ 79 mil por mês) o cargo de presidente do conselho da estatal. A boa notícia costuma ser anunciada não na sede da empresa, mas na do governo, sobrepondo e transfigurando méritos, metas e finalidades, fazendo de Lula, e agora de Dilma, os beneficiários de uma popularidade induzida.

Essa mescla de interesses inconfessáveis, conduzida com alta dose de atrevimento, reduz o potencial, descomunal, dos biocombustíveis (sequestradores de carbono), que poderiam agora estar rendendo uma incrível prosperidade ao povo. O bio é o que o mundo quer, e apenas o Brasil tem em proporções fantásticas. Entretanto, mais uma vez a Petrobras, ou a Petrobras/governo/Dilma/eleições/tributos/financiamento de campanhas, apossa-se daquilo que não é dela.

Não há cabimento entregar à Petrobras o desenvolvimento, a normatização, as estratégias, os acordos internacionais dos bio , exatamente a uma estatal cujo futuro depende da extração de combustíveis fósseis, como o é o petróleo. Apenas os investimentos no pré-sal, com todos os interesses econômicos que envolve, são capazes de abrir caminho a qualquer custo e preço. É aí que Lula quer entregar o futuro dos biocombustíveis? Ou apenas seu enterro?

Etanol nunca se transformará em commodities enquanto quem tratar disso for uma petrolífera. O fim ou o adiamento sine die e sem justificativa do H-Bio já mostra o que se pode esperar.

O destino dos biocombustíveis brasileiros deveria estar nas mãos de um ministério específico, longe da Petrobras e de um governo que, antes de qualquer outro interesse, enxerga a manutenção de seus lucros e de seu poder.

Vittorio Medioli é ex-deputado federal por Minas Gerais (PSDB - 1989-2005), proprietário do grupo SADA

Fonte: O Tempo
Do: Jurídico Brasil
Data: 30/07/2009 - 06:10:00

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